Zyk’Zyk
O destino de Berenice após deixar a Deriva era incerto. Os viajantes arrastavam símbolos nas telas holográficas em busca de informações sobre a localização, mas nenhum registro era encontrado. O mais estranho, porém, era o silêncio repentino da própria Berenice, a voz da nave.
Intrigado com o desaparecimento inexplicável da IA, Ed iniciou um diagnóstico completo. Tudo parecia funcionar perfeitamente, exceto os motores de deriva, que haviam sofrido uma sobrecarga durante o incidente.
Nos painéis, a análise do planeta à frente não indicava sinais de vida inteligente, mas revelava algo ainda mais perturbador: uma barreira orbital poderosa, que tornava qualquer tentativa de aterrissagem quase impossível.
Desencorajados, os aventureiros começaram a traçar uma rota de retorno aos Mundos do Pacto. Foi então que o comunicador da nave emitiu um chiado áspero. Uma voz alienígena, marcada por estalos metálicos, rompeu o silêncio:
— Saudações, viajantes...
O tom era carregado de uma estranha cadência, como um sotaque esquisito. Por alguns segundos, a mensagem pareceu apenas um aviso automático, mas logo ficou claro que havia intenção por trás dela.
— Meu nome é Zyk’Zyk. Vocês acabaram de entrar em um território de quarentena. Identifiquem-se e apresentem seu manifesto de carga... ou arrisquem-se a serem... decompostos.
Rykk tentou manter a calma e argumentar, mas a conversa rapidamente revelou a verdade: tratava-se de um pirata.
— Sua carga está vazia? Estranho... — comentou o insetoide, entre curiosidade e desprezo.
Uma breve pausa, seguida de um tom quase ameaçador:
— Sua nave é... interessante.
A transmissão foi cortada. No radar, a assinatura da nave inimiga se aproximava em rota de interceptação.
Ed tentava acessar os controles da artilharia nos terminais holográficos, mas códigos embaralhados surgiam sem parar, atrasando uma tarefa que levaria segundos se a interface cognitiva estivesse ativa. Eles teriam de lutar com o que tinham.
Enquanto isso, Rykk conseguiu enganar Zyk’Zyk por alguns minutos com conversa fiada. O pirata, desconfiado, acreditou por um tempo que a nave carregava algo de valor. Mas, quando se aproximou o suficiente, os aventureiros realizaram manobras arriscadas e colocaram Berenice em posição de disparo contra a líder do bando: a Carniçal do Vazio.
Os piratas foram surpreendidos. Embora tivessem a chance de iniciar o combate, acabaram sendo atingidos primeiro. O embate iluminou o céu do planeta distante, canhões fotônicos cruzando o espaço em rajadas contínuas.
O grupo manteve o foco na nave líder. As outras três, ágeis e precisas, representavam perigo real, mas os aventureiros acreditavam que, destruindo a Carniçal do Vazio, dispersariam o bando.
A pressão surtiu efeito. A nave inimiga tentou abrir negociação. Mas os termos de Rykk foram duros: três naves em troca da liberdade do shirren. Orgulhoso e enfurecido, Zyk’Zyk recusou, mesmo sabendo que isso o levaria à destruição.
Foi nesse momento que Berenice despertou. Sua voz, clara e firme, anunciou a liberação de novos sistemas de armamento. Em destaque no painel, as ogivas nucleares já tinham a Carniçal do Vazio na mira. Rykk fez questão de transmitir o aviso diretamente a Zyk’Zyk, que, mesmo diante da ameaça, não se rendeu.
Ed acionou o disparo. As ogivas avançaram em silêncio mortal e se detiveram contra a nave pirata, espalhando destroços pelo vazio. Diante da cena, as demais naves recuaram em fuga desordenada.
A primeira batalha espacial estava vencida — apesar de Berenice ter permanecido inconsciente durante quase todo o confronto.
Depois, a IA explicou que seus sistemas cognitivos haviam ficado sobrecarregados após a saída da Deriva, mas que tudo estava normalizado. E revelou algo mais: aquele mundo era Viez, um planeta-cofre. Sua superfície era protegida por uma barreira orbital que só poderia ser atravessada com uma chave de acesso única.
E Berenice era essa chave.
Antes que o grupo desse prosseguimento a sua viagem, Berenice revelou que detectara outro sinal de vida dentro da nave. Questionada sobre quem era, a IA não conseguiu responder, mas indicou que a criatura estava nos dutos internos, onde ela ainda detém pouco controle de monitoramento.
Rykk abriu os alto-falantes e convenceu o visitante a se apresentar, dizendo que ele não seria mal tratado. O estranho se revelou na ponta, após abrir um duto de ventilação que passava sob a passarela de acesso.
Pip, como se apresentou, é um skittermander tímido e habilidoso. Ele disse que estava em Berenice desde os tempos em que ela ficava no asteroide de Gre-ôn, inativa. Ele é mecânico, e a manteve intacta por conta própria.
Sistema Desconhecido, Deriva, quinta-feira, 8 de Desnus, 325 DL.
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