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domingo, 30 de novembro de 2025

(LA) Sessão 20

Vau do Calbuen

O plano de fuga

O resgate de Silvan, Frida e os demais das garras do dragão foi um sucesso. Apesar da morte dos guardas, o desfecho poderia ter sido trágico não fosse a ação rápida dos aventureiros. Na segurança relativa do subterrâneo, Haftor invocou um milagre, trazendo de volta à vida o guarda de Frida que perecera durante a batalha.

Entre os magos, Tessa era a mais abalada; apertava o livro contra o peito, em choque. Réctor ofereceu-lhe um chá quente de Láudis. “Não se preocupe, menina, vai dar tudo certo”, tentou confortar o napol.

Silvan, por sua vez, mantinha a postura altiva enquanto limpava a neve do robe. — Uma criatura voraz dessas tão perto de uma cidade… esse local não nega a alcunha de ‘selvagem’ — comentou com arrogância, após Réctor indagar sobre seu estado.

Enquanto o milagre de ressurreição se concretizava, Réctor distribuiu poções e iniciou o debate sobre a fuga para não atraírem novamente a ira da besta. O guarda ressuscitado transbordava gratidão ao paladino, e Frida, em retribuição, prometeu uma oferta ao templo: — Faremos uma doação generosa ao culto de Crizagom quando chegarmos em Telas.

O consenso foi atingido: Silvan abriria um portal para a Floresta de Gingord, a quilômetros de distância da Torre Branca do Sul. Réctor ofereceu uma poção de karma ao mestre do conhecimento, mas, ao notar a expressão desconfiada do mago, arrancou-lhe o frasco da mão. — Está achando que é ruim? Você vai fazer magia, eu estou te ajudando. Já que não quer…

O napol entregou o frasco a Dorian. Garuk, interpondo-se de forma intimidadora, reforçou: — Lembre-se que o frasco é para você… você é o líder.

Para salvar os cavalos sobreviventes e recuperar a carroça, Réctor voluntariou-se para uma missão solo e arriscada na superfície. O plano foi posto em prática: Silvan gesticulou exageradamente e o arco mágico se formou, revelando a trilha na Floresta de Gingord. — Passem, que não vai durar muito — ordenou o mago. Um a um, todos atravessaram, deixando o napol para trás.

Ludibriando o Dradenar

Ao emergir do alçapão, Réctor deparou-se com o corpo do guarda morto anteriormente. Alçou voo para localizar os animais e avistou os três cavalos ainda amarrados à carroça virada junto ao muro interno. Um dos animais dos magos vivia, mas estava preso pela corda à carcaça do companheiro e aos destroços.

O feiticeiro pousou junto a eles. Estavam agitados, mas o napol sabia como acalmá-los. — Calma, garotos, nós vamos dar uma passeio — sussurrou, condensando nuvens sob as patas das bestas.

Dois cavalos foram içados facilmente pela magia. No entanto, assim que Réctor libertou o terceiro animal e ergueu a carroça, a fera gigantesca despencou atrás dele, fazendo nevar com o impacto. Por um triz, as presas do monstro não derreteram as penas do napol. Réctor executou uma manobra evasiva no ar enquanto o dragão escalava a torre, cravando as garras na pedra e fixando os olhos na presa. O dradenar expeliu uma borra ácida, obrigando o feiticeiro a realizar acrobacias perigosas para sobreviver.

Réctor aterrissou brevemente para salvar o último cavalo. Cortou a corda e golpeou o traseiro do animal para espantá-lo. BUM! O dradenar aterrissou logo atrás. Um giro rápido do monstro fez a cauda chicotear o ar na direção do feiticeiro. Réctor foi mais rápido: desviou-se e abriu suas asas enormes, usando o deslocamento de ar provocado pelo dragão como propulsão para ganhar altitude e afastar-se.

A besta, sem asas fortes o suficiente para persegui-lo, nada pôde fazer. Réctor ainda teve tempo de virar-se e insultar a criatura com um gesto obsceno. O dradenar grunhia e urrava, mas a presa estava fora de alcance.

Enquanto isso, na Floresta de Gingord, o Guia usava seus poderes sombrios para ocultar os rastros da caravana. Haviam viajado cinco quilômetros num instante, mas desconheciam a capacidade de rastreamento do monstro. Prevenir era vital. Réctor reuniu-se com eles mais tarde, na segurança de um abrigo encontrado para o pernoite.

Vau do Calbuen

O grupo deixou a Floresta de Gingord no segundo dia. O dragão não os perturbou mais; talvez o despistamento tenha funcionado, ou a fera apenas não quisera gastar energia. Poucas horas após retomarem a estrada para Telas, avistaram um vilarejo fortificado à beira do rio, cercado por uma grande paliçada de madeira — um entreposto militar.

A primeira impressão foi olfativa: um odor pútrido e denso vinha do noroeste. Guardas de cota de malha e alabardas vigiavam os portões, mas permitiram a entrada dos aventureiros sem interrogatórios. A população era predominantemente masculina e armada. No centro, destacava-se um casarão retangular com a bandeira vermelha e preta das terras do norte. — Pertence a uma casa nobre do reino de Ludgrim — identificou Haftor.

— Boa noite. Existe algum local para passarmos a noite com mais conforto? — perguntou Réctor a um aldeão que trabalhava na madeira. O homem indicou a casa grande sem interromper sua tarefa.

Antes de chegarem à estalagem, foram abordados por uma patrulha liderada por Ergan. O humano foi solícito, mas enfático no alerta: — Espero que tenham uma boa viagem… Só vou alertá-los: não comam nada que venha do rio, nem bebam sem ferver três vezes.

Ele explicou que uma mortandade de peixes ocorrera dias antes. O rio estava morto. Segundo Ergan, os magos de Telas chamavam o fenômeno de “purificação”, alegando que o Domo limpava as águas eliminando o que era fraco. Ele, contudo, era cético: — Para mim, é veneno.

Em seguida, Ergan iniciou um interrogatório que chamou de “protocolar”, dirigindo-se a Silvan:
— Qual é a linhagem mágica de vocês?
— Vocês carregam algum artefato ressonante?

Réctor interrompeu com deboche: — Tenho um violão. Ergan constrangeu-se, admitindo que apenas repassava as perguntas sem entender o motivo. Sem respostas conclusivas, deu a missão por cumprida e liberou o grupo.

A morte e a mensagem

Réctor, Haftor, Haldur e os magos dirigiram-se à estalagem, enquanto o Guia, Garuk e Olgaria foram investigar o Rio Calbuen.

A passagem era iluminada por uma chama intensa na outra margem, onde uma pilha de peixes mortos era incinerada. O Guia entrou na água rasa, buscando a causa da podridão. Sentiu um calafrio terrível e uma sensação desagradável na correnteza. Sob a luz oscilante do fogo, teve a certeza de ver uma silhueta estranha formar-se na água e dissipar-se logo em seguida.

Garuk, com suas mãos fortes, rasgou um peixe ao meio. Não havia sinais visíveis de doença nas entranhas; apenas o cheiro de decomposição. O berserker coletou amostras de água e lama para Réctor. Olgaria, sentindo o odor, comentou que lhe parecia familiar. O Guia concordou: cheirava como a chuva negra da Encruzilhada.

•••

Na pequena estalagem, a atendente Belmira, uma mulher de olhar inexpressivo, insistia em servir chá fervido “três vezes”, conforme recomendação de Ergan. O grupo recusou a comida, exceto pelas bebidas alcoólicas aceitas por Haftor e Haldur, feitas com safras antigas de água. Belmira ofereceu caldo de batatas por um preço irrisório, mas Haftor pagou a mais apenas para recusar: — É melhor não nos arriscarmos.

Enquanto se acomodavam no alojamento, Olgaria empalideceu e sussurrou: — Zartam…

Na janela, um majestoso falcão branco pousou, carregando um pergaminho. Réctor recebeu a ave, que partiu assim que a mensagem foi retirada. — Zartam é a sombra da própria Hêrda. Ele só aparece quando o tempo de paz acabou — anunciou a zumi.

Era a resposta da anciã de Odrenvill ao chamado onírico de Réctor:

Meu Filho das Asas,

O sinal que me enviou cruzou as Terras, mais rápido que o vento e mais claro que as águas da Geleira. A Chuva Negra que lhe tingiu o chão já me havia tocado em sonhos, e o luto que ela anunciava era o som do pássaro silenciado. Você viu a sombra, mas não tema: a Luz sempre precede a escuridão.

O perigo se adensa não apenas nas vilas dos homens. Meu espírito visitou os picos de gelo onde a profecia se inicia, e vi a Montanha a lamentar, rachada pela fúria que não é natural. Vi a Aurora em sofrimento, como uma mãe que padece de uma doença lenta. Os fragmentos tremem, e aquilo que a aprisionou no passado busca consumi-la agora.

Não olhe para os lados, Réctor. Seu caminho é para Uno, onde o Coração original repousa. O tempo corre mais frio do que o rio na nevasca. Você deve queimar a dúvida em seu peito. A Luz está sendo Sufocada, não derrotada.

Lembre-se das palavras do nosso povo: a salvação virá com o fogo de quem tem a visão para além do que se vê. Traga-a para casa.

Vá com a bênção da Anciã. Vá com a coragem da Águia.
Hêrda, a Guardiã.

Após a leitura, debateram sobre a “Aurora Gelada”. Olgaria foi enfática: era a salvação das Geleiras. Garuk animou-se, mas Réctor fixou-se nos trechos sombrios. Guardaram a mensagem e decidiram explorar a cachoeira pela manhã.

O milagre e a maldição

No dia seguinte, o grupo dividiu-se novamente. A comitiva da carroça seguiu pela estrada, enquanto os aventureiros subiram o leito do rio. Na cascata, 500 metros acima, o cenário era desolador, embora menos catastrófico que na véspera. Alguns peixes já desciam a correnteza, vivos.

O Guia sentiu o pingente de Dagomir pulsar intensamente sob a armadura. Ao retirá-lo, teve uma sensação agradável na palma da mão. Em uníssono, os cristais da Aurora de Garuk, Réctor e Haftor brilharam em ressonância.

Atendendo a um chamado silencioso, o rastreador mergulhou o pingente na água gelada. O brilho pálido tornou-se rubro e intenso. Uma onda de alívio espiritual varreu o grupo, dissipando a opressão da morte. Réctor, percebendo o fenômeno, voou para buscar Olgaria e Tessa.

Quando a zumi chegou, o Véu da Alvorada também reagiu, mas o rio já estava transformado. As águas estavam puras, límpidas, e a vida retornara. O Guia retirou o amuleto da água: ele estava inerte, desprovido de qualquer magia. O milagre da purificação consumira toda a energia do artefato.

Garuk, pragmático, pescou um peixe com as mãos, comeu a cabeça e declarou: — Está normal. Gosto de peixe!

— Parece que você restaurou o rio, Guia. O pingente usou a energia para purificar tudo — teorizou Réctor, com Olgaria completando animada sobre o poder da Aurora Gelada.

A celebração, porém, foi interrompida. O céu escureceu subitamente, transformando o dia em noite. A opressão gélida da Chuva Negra retornou. Haftor gritou por abrigo. Réctor voou até os magos para coordenar um portal, e ao voltar, desenhou a porta de sua Casa dos Sonhos em uma rocha, instando todos a entrar.

O Guia, contudo, permanecia no rio, buscando a fonte da contaminação. Foi quando viu a silhueta sombria formar-se na água novamente. Desta vez, ela solidificou-se, exibindo um sorriso macabro. A sombra avançou, atravessando o rastreador e congelando-o por dentro. Uma voz gutural e conhecida ecoou:

— Você respira, enquanto eu congelo nesta escuridão. Me dê o calor, aberração… a vida que roubou de mim!

Era Margoth, o Estrígio de Aymon, em sua não-vida implacável.

O Guia tentou usar suas sombras para escapar, mas a criatura o perseguiu pelo próprio plano sombrio. Cambaleando para a margem, ele alertou: — É aquele elfo sombrio maldito, a sombra dele está aqui!

Haftor empunhou o martelo, clamando a autoridade de Crizagom: — PARE! — Mas o morto-vivo apenas riu, sua gargalhada misturando-se ao som das águas.

— Eu terei minha vingança! — prometeu Margoth, dissolvendo-se no rio.

A escuridão amenizou, mas o ar permaneceu pesado. A paz do Vau do Calbuen era uma ilusão frágil.

Vau do Calbuen, Terras Selvagens — Dias 13 a 17 do mês do Sangue, ano de 1502.

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