As Ruínas do Covil
O rastro de Thal
O Guia desceu o alçapão, guiado pelo odor familiar de Thal, seu antigo mentor sekbete. Encontrou uma sala vazia, impregnada por uma sensação mágica que se dissipava lentamente. Após verificar que o ambiente era seguro, fez um sinal para que os companheiros o seguissem.
Os aventureiros exploraram cada canto do piso ladrilhado. Quatro colunas de rocha, cobertas por inscrições élficas danificadas, chamavam atenção.
— “Parece um ritual ou algo do tipo, que foi apagado.” — observou Haftor. Réctor confirmou: os sulcos raspados haviam desfazido um encantamento.
À direita da entrada, Haftor avistou uma capela dedicada a Palier, profanada e repleta de destroços. Antes que pudesse se aproximar, o Guia o chamou. O rastro de Thal seguia por uma passagem estreita, e ele atravessou-a com seu passo umbral.
O corredor levava a uma cela escura. No interior, restos mortais de criaturas humanoides — mas nenhum sekbete.
— “Os ossos foram corroídos, não roídos.” — notou o rastreador, ao ver as paredes recobertas por um líquido verde e ácido. O cheiro de Thal ainda estava presente, mas o rastro se extinguia ali.
Réctor examinou o local e descobriu um ralo largo no centro da cela. Mergulhado em um ácido viscoso, puxou uma corrente presa a um porta-retrato. Dentro, a imagem de uma anã ruiva e guerreira.
O desafio sufocante
Enquanto isso, o restante do grupo explorava outro cômodo, dominado por um grande caldeirão de líquido fervente. Haldur seguia por último, mantendo Demétrius sob vigilância.
Réctor tentou recolher uma amostra do fluido, mas o ácido espirrou e queimou suas mãos. Uma poção de cura reduziu a dor, embora a cicatriz persistisse.
Quando o Guia retornou da investigação, ajudou Garuk a abrir caixas de pedra próximas. Dentro, encontraram ossos e ferramentas antigas — objetos aparentemente descartados.
Uma porta maciça separava o ambiente de outro setor. Coagido por Réctor, Demétrius conseguiu destravá-la. O Guia, ao aproximar-se, sentiu o cheiro úmido de água parada.
Do outro lado havia uma enorme piscina quadrada, de água límpida e profundidade imensa. Para sondar o fundo, o rastreador mergulhou, deixando Olgaria e Réctor à espera.
Logo após o mergulho, a porta se fechou sozinha e dutos começaram a encher o cômodo de água.
— “Não se preocupe.” — disse Réctor, sereno. — “Se a água subir, farei você respirar nela.”
No fundo, o Guia encontrou uma chave e tentou investigar algo escondido sob um ladrilho — apenas um prego enferrujado. Ao perceber o perigo, nadou rapidamente e usou a chave na fechadura. A água cessou e começou a escoar.
O rastreador manteve os companheiros firmes na parede até que a piscina se esvaziasse por completo.
A mensagem final
O fosso seco revelou um corredor que levava a um refeitório em ruínas. O ar cheirava a comida podre; potes e panelas continham restos de gordura e carne em decomposição. Enquanto o Guia examinava uma trilha de sangue, Réctor vasculhava os recipientes e encontrou um pergaminho conservado dentro de um pote. Ao abri-lo, leu em voz alta o relato de um sobrevivente — o escriba Tirum.
O Mestre Veridium já havia partido. Uma semana. Ele nos deixou com Irina e a instrução: 'Se a calamidade vier, protejam a si mesmos e o que não pode ser tocado'. Calamidade veio.
Quando a coluna central do Pátio Principal cedeu, aquela escama verde e úmida irrompeu. Não queria comida. Queria o Recipiente — o objeto que o Mestre usava para nos proteger. Lutamos, nós, os servos, com varas e feitiços fracos. Nossos ossos eram de palha contra sua Fúria.
Irina, minha mestra em táticas, percebeu o erro. O Dradenar só iria parar quando encontrasse o que procurava. Ela me deu tempo. Usando o caldeirão de proteção do Mestre, ela desceu. Lembro-me apenas do brilho, do cheiro de carne queimada e do berro de dor da fera. Ela feriu o bicho, deuses a abençoem.
Eu a encontrei depois. Deitada onde deveria estar, na honra. Fiz o que pude, o que me era permitido. Não consigo subir mais, a entrada superior desabou. Estou aqui, agora, com este relato. O som de passos me alcança. O Mestre falhou: não foi sua magia que causou nossa ruína, mas sua ousadia em construir o nosso refúgio sobre o ninho de outro.
Que este pergaminho chegue a alguém. Que a memória de Irina Vingadora seja lembrada por quem se atreva a olhar para a escuridão. Eles estão vindo. Preciso trancar a porta.
— Tirum, o Escriba. Que o esquecimento me encontre em paz.
O Guia abriu a porta adiante e encontrou o corpo mumificado de um homem. Vestia túnicas verdes e azuis, adornadas com prata, e trazia uma varinha presa ao cinto — um focus mágico, segundo Réctor. Um punhal enferrujado jazia ao seu lado.
A sala seguinte era uma biblioteca de rochas e runas. Haftor tomou um livro de geologia, enquanto Réctor examinava a estante e descobriu um volume fixo — uma alavanca.
O mausoléu de Irina
O Guia, Garuk e Olgaria exploraram a passagem lateral que conduzia a um mausoléu esculpido em mármore branco, adornado com colunas e estátuas. Um tampo ornamentado se destacava no centro, coberto por runas em anão antigo.
Garuk, curioso, olhou para o Guia e disse: — “Na última tumba eu achei um machado. Vamos ver o que tem aqui dentro.”
Os dois sekbetes removeram o tampo com cuidado, revelando os restos mortais de uma anã ruiva, vestindo uma armadura feita de ossos robustos. Um machado enferrujado repousava sobre o peito dela.
Na parte inferior do tampo, um epitáfio em anão profundo dizia:
Irina Vingadora, a guardiã:
sua lealdade foi a única muralha que a fera silvestre não pôde derrubar.
Ela se deitou aqui para que o segredo não tocasse o sol.
Que sua honra seja o castigo de todos os que constroem sobre o ninho de outro.
O Guia identificou a marca no pescoço da anã — o mesmo sinal que Réctor havia visto no retrato retirado do ácido. A conexão estava confirmada: aquela era Irina, a guerreira do relato de Tirum.
O estudo secreto
A alavanca na biblioteca revelou outro caminho, conduzindo a um laboratório secreto. No centro, uma plataforma hexagonal sustentava um pedestal vazio; três torres de energia zumbiam ao redor.
Demétrius foi atingido por um raio ao se aproximar, mas sobreviveu. Réctor enviou Sombra para investigar, e a criatura confirmou tratar-se de um feitiço elétrico. O feiticeiro enfrentou a dor dos choques e dissipou a magia com um contra-feitiço.
Haftor avançou pela passagem lateral para um laboratório ainda maior e encontrou uma esfera de metal negro — quebrada, oca, como se algo tivesse sido arrancado de dentro.
Nas anotações de Veridion Scriptôr, Réctor leu sobre o Corvear, um metal capaz de conter energia titânica, usado na criação de um artefato chamado Recipiente.
No pedestal ao lado, Haftor girou duas esferas douradas e ativou uma projeção na parede: um mapa indicando a Cidadela de Autriz, nas Geleiras.
— “É o mesmo nome que vi na abóbada da torre.” — comentou o Guia.
O rastreador seguiu um novo rastro — uma gosma verde e viscosa espalhada ao redor de uma máquina arcana. Dentro dela repousava uma espada dourada e restos de carne queimada. Ao se aproximar, a substância se agitou e ganhou forma.
O combate era inevitável.
Torre Branca do Sul, Terras Selvagens — Dia 13 do mês do Sangue, ano de 1502.



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