A Subestação de Krevlan
Discrição perdida
O confronto na ruela de Krevlan chegou ao fim, e Hothspoth aproximou-se do corpo do riforiano sedado.
— “Flynn, me ajuda aqui — a ponta do dardo quebrou no pescoço dele.” — disse o solariano, preocupado.
O companheiro se abaixou e examinou o ferimento. A perfuração era delicada, e Flynn concluiu que não possuía os instrumentos adequados — nem um ambiente seguro — para remover o fragmento. Hothspoth considerou levar o prisioneiro até o carro de Rykk, mas o trajeto pelas ruas quentes e movimentadas chamaria atenção demais.
Com isso, o draconiano alçou voo e transportou o riforiano até o terraço de um prédio próximo, pousando-o junto a uma antena. Lá, Flynn conseguiu remover o fragmento com segurança.
Com o ferimento resolvido, surgiu outro problema: uma câmera de vigilância. Apesar da precariedade de Krevlan, o distrito era coberto por dispositivos de monitoramento. O terraço onde estavam não possuía câmeras governamentais, mas uma lente particular sobre a porta de acesso vigiava o local.
Ed rapidamente invadiu o sistema e descobriu que o servidor das imagens ficava no andar de baixo. Porém, usar a escada principal chamaria atenção dos moradores. Rykk levou Ed até o prédio vizinho para tentar observar pela janela, mas a escuridão impediu qualquer visão clara.
A dupla elaborou um plano: Rykk se aproximaria da janela enquanto Ed entraria para apagar as gravações. Contudo, o plano falhou. No meio do voo, uma pedrada atingiu o draconiano.
— “Ladrão!” — gritou um riforiano do chão.
— “Calma! Eu sou do Ministério — estou estudando uma patologia!” — respondeu Rykk, tentando convencê-lo.
O riforiano, que se apresentou como Kélix, acabou acreditando na encenação, aceitando que Rykk era um agente e Ed, seu guarda-costas. Ele comentou que a casa em questão pertencia a um homem chamado Antrus. Posando de funcionário do Ministério da Saúde, Rykk perguntou sobre doentes com SMD.
— “Sim, conheço uma mulher.” — respondeu o riforiano.
Quando a conversa se esgotou, os dois retornaram ao grupo. Decidiram desistir de invadir o sistema.
— “Vamos jogar a merda no ventilador.” — disse Rykk, resignado, referindo-se às imagens que já haviam sido registradas.
Antes de partirem, o draconiano implantou um software rastreador no comunicador do riforiano desacordado e o deixou amarrado no terraço — com esperança de encontrá-lo ali ao retornar.
A subestação contaminada
As ruas estreitas de Krevlan levavam a um terreno mais limpo e isolado — ali ficava a subestação. As casas vizinhas mantinham os fundos voltados para ela, como se evitassem o contato.
O portão de acesso foi aberto com o cartão que Rykk recebera de sua mãe.
— “Bem-vinda, Sirena.” — anunciou a voz robótica do computador quando o draconiano inseriu a credencial.
Logo ao entrar, Ed sentiu dor no braço. Os solarianos também perceberam algo estranho. Hothspoth teve uma sensação de déjà-vu, enquanto Flynn notou uma interferência em sua conexão com a energia solar.
A fonte do desconforto estava em um transformador defeituoso. Hothspoth sentia a radiação sepulcral emanando dali. Flynn identificou uma válvula solta, expelindo vapor fluorescente. Ignorando o risco, reconectou o duto com suas ferramentas e conteve o vazamento. Gravada no metal do transformador, uma mensagem vandalizada dizia: “Krevlan ferveu. A areia é o trono do traidor.”
Rykk concluiu que aquilo refletia o ressentimento dos riforianos, talvez vítimas de desapropriação quando a subestação foi construída.
Em seguida, usou o cartão na porta da sala de controle.
— “Bem-vinda, Sirena. Confirmação biométrica necessária.” — anunciou o sistema.
Ed foi rápido: conectou seu terminal portátil e burlou a autenticação. Rykk passou o cartão novamente, e sua própria biometria bastou para liberar o acesso.
O interior da sala era amplo e impecável. No centro, uma mesa circular metálica cercada por terminais luminosos. Painéis dispostos em três arcos concêntricos exibiam dados pulsantes, e trilhos metálicos cruzavam o chão polido.
O som constante do magnetismo foi interrompido por um ruído mecânico. Hothspoth avançou e encontrou um robô de serviço: corpo esguio, cabeça monocular e esteiras magnéticas no lugar das pernas.
— “Você não deveria estar aqui.” — alertou a máquina.
Ao ouvir Rykk tentar convencê-lo, respondeu: — “Eu conheço os protocolos.”
O robô iniciou uma transmissão. O grupo bloqueou o sinal, mas o autômato continuou:
— “Estou alertando as autoridades. Deixem a estação ou serão detidos em dez minutos.”
Rykk percebeu o blefe. Hothspoth, irritado, destruiu o robô com um golpe.
Ed iniciou o protocolo de instalação do dispositivo enviado por Grutingrafgnaw, enquanto Flynn e Kassius mantinham vigilância. Flynn percebeu uma trilha de fluido de transporte — usado em androides — levando a um alçapão.
Quando Ed ainda finalizava o processo, Kassius arrombou a passagem e desceu com Flynn. O restante permaneceu operando os terminais. Rykk aproveitou para consultar os registros do sistema e encontrou três nomes de usuário: hierofante_beta_7, orelan_admin e grutingraf. A última identificação o fez gelar — sua mãe tentara acessar o local recentemente.
O calabouço
Assim que Ed terminou a instalação, ele, Hothspoth e Rykk desceram para se reunir a Flynn e Kassius. O guerreiro forçava uma porta no fim do corredor metálico. Ao abri-la, revelou um ambiente iluminado por lâmpadas amarelas, câmeras no teto e duas portas laterais.
Hothspoth foi o primeiro a investigar. Ao abrir a da esquerda, encontrou jaulas contendo restos mortais. Uma delas estava suspensa sobre um maquinário que emitia pulsos de radiação — talvez o núcleo das anomalias. O solariano deixou o local, inquieto, e foi até a sala oposta.
Enquanto isso, Ed, Flynn e Rykk analisavam melhor as celas. Um dos corpos parecia intacto — e logo perceberam que não era cadáver, mas uma androide. A mulher metálica estava viva, consciente, mas paralisada — apenas os olhos se moviam.
Com paciência, Ed e Rykk compreenderam que ela precisava de fluido de transporte para funcionar e que as jaulas poderiam ser abertas a partir da oficina do outro lado.
Hothspoth e Kassius, na oficina, improvisavam uma réplica do fóssil âmbar. O solariano acreditava que o artefato falso poderia ser entregue ao Ministério, conforme Rykk prometera, mas Flynn discordava: as câmeras os denunciariam assim que saíssem dali.
Ignorando a discussão, Ed abriu a jaula da androide. Rykk encontrou um recipiente com fluido na oficina e o verteu em sua boca. Em poucos instantes, ela se recompôs.
— “Meu nome é Astra.” — disse, em tom suave e metálico.
Explicou que fora capturada enquanto realizava trabalho voluntário em Triaxus. Não sabia o motivo, mas prometeu ajudar o grupo até escaparem juntos.
Os aventureiros decidiram seguir em frente. Batidas metálicas ecoavam no corredor à frente — sinais de que a subestação guardava mais segredos. Eles avançaram...
Triaxus, Cidade de Orelan — Quinta-feira, 22 de Desnus de 325 DL.



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