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domingo, 30 de novembro de 2025

(LA) Sessão 20

Vau do Calbuen

O plano de fuga

O resgate de Silvan, Frida e os demais das garras do dragão foi um sucesso. Apesar da morte dos guardas, o desfecho poderia ter sido trágico não fosse a ação rápida dos aventureiros. Na segurança relativa do subterrâneo, Haftor invocou um milagre, trazendo de volta à vida o guarda de Frida que perecera durante a batalha.

Entre os magos, Tessa era a mais abalada; apertava o livro contra o peito, em choque. Réctor ofereceu-lhe um chá quente de Láudis. “Não se preocupe, menina, vai dar tudo certo”, tentou confortar o napol.

Silvan, por sua vez, mantinha a postura altiva enquanto limpava a neve do robe. — Uma criatura voraz dessas tão perto de uma cidade… esse local não nega a alcunha de ‘selvagem’ — comentou com arrogância, após Réctor indagar sobre seu estado.

Enquanto o milagre de ressurreição se concretizava, Réctor distribuiu poções e iniciou o debate sobre a fuga para não atraírem novamente a ira da besta. O guarda ressuscitado transbordava gratidão ao paladino, e Frida, em retribuição, prometeu uma oferta ao templo: — Faremos uma doação generosa ao culto de Crizagom quando chegarmos em Telas.

O consenso foi atingido: Silvan abriria um portal para a Floresta de Gingord, a quilômetros de distância da Torre Branca do Sul. Réctor ofereceu uma poção de karma ao mestre do conhecimento, mas, ao notar a expressão desconfiada do mago, arrancou-lhe o frasco da mão. — Está achando que é ruim? Você vai fazer magia, eu estou te ajudando. Já que não quer…

O napol entregou o frasco a Dorian. Garuk, interpondo-se de forma intimidadora, reforçou: — Lembre-se que o frasco é para você… você é o líder.

Para salvar os cavalos sobreviventes e recuperar a carroça, Réctor voluntariou-se para uma missão solo e arriscada na superfície. O plano foi posto em prática: Silvan gesticulou exageradamente e o arco mágico se formou, revelando a trilha na Floresta de Gingord. — Passem, que não vai durar muito — ordenou o mago. Um a um, todos atravessaram, deixando o napol para trás.

Ludibriando o Dradenar

Ao emergir do alçapão, Réctor deparou-se com o corpo do guarda morto anteriormente. Alçou voo para localizar os animais e avistou os três cavalos ainda amarrados à carroça virada junto ao muro interno. Um dos animais dos magos vivia, mas estava preso pela corda à carcaça do companheiro e aos destroços.

O feiticeiro pousou junto a eles. Estavam agitados, mas o napol sabia como acalmá-los. — Calma, garotos, nós vamos dar uma passeio — sussurrou, condensando nuvens sob as patas das bestas.

Dois cavalos foram içados facilmente pela magia. No entanto, assim que Réctor libertou o terceiro animal e ergueu a carroça, a fera gigantesca despencou atrás dele, fazendo nevar com o impacto. Por um triz, as presas do monstro não derreteram as penas do napol. Réctor executou uma manobra evasiva no ar enquanto o dragão escalava a torre, cravando as garras na pedra e fixando os olhos na presa. O dradenar expeliu uma borra ácida, obrigando o feiticeiro a realizar acrobacias perigosas para sobreviver.

Réctor aterrissou brevemente para salvar o último cavalo. Cortou a corda e golpeou o traseiro do animal para espantá-lo. BUM! O dradenar aterrissou logo atrás. Um giro rápido do monstro fez a cauda chicotear o ar na direção do feiticeiro. Réctor foi mais rápido: desviou-se e abriu suas asas enormes, usando o deslocamento de ar provocado pelo dragão como propulsão para ganhar altitude e afastar-se.

A besta, sem asas fortes o suficiente para persegui-lo, nada pôde fazer. Réctor ainda teve tempo de virar-se e insultar a criatura com um gesto obsceno. O dradenar grunhia e urrava, mas a presa estava fora de alcance.

Enquanto isso, na Floresta de Gingord, o Guia usava seus poderes sombrios para ocultar os rastros da caravana. Haviam viajado cinco quilômetros num instante, mas desconheciam a capacidade de rastreamento do monstro. Prevenir era vital. Réctor reuniu-se com eles mais tarde, na segurança de um abrigo encontrado para o pernoite.

Vau do Calbuen

O grupo deixou a Floresta de Gingord no segundo dia. O dragão não os perturbou mais; talvez o despistamento tenha funcionado, ou a fera apenas não quisera gastar energia. Poucas horas após retomarem a estrada para Telas, avistaram um vilarejo fortificado à beira do rio, cercado por uma grande paliçada de madeira — um entreposto militar.

A primeira impressão foi olfativa: um odor pútrido e denso vinha do noroeste. Guardas de cota de malha e alabardas vigiavam os portões, mas permitiram a entrada dos aventureiros sem interrogatórios. A população era predominantemente masculina e armada. No centro, destacava-se um casarão retangular com a bandeira vermelha e preta das terras do norte. — Pertence a uma casa nobre do reino de Ludgrim — identificou Haftor.

— Boa noite. Existe algum local para passarmos a noite com mais conforto? — perguntou Réctor a um aldeão que trabalhava na madeira. O homem indicou a casa grande sem interromper sua tarefa.

Antes de chegarem à estalagem, foram abordados por uma patrulha liderada por Ergan. O humano foi solícito, mas enfático no alerta: — Espero que tenham uma boa viagem… Só vou alertá-los: não comam nada que venha do rio, nem bebam sem ferver três vezes.

Ele explicou que uma mortandade de peixes ocorrera dias antes. O rio estava morto. Segundo Ergan, os magos de Telas chamavam o fenômeno de “purificação”, alegando que o Domo limpava as águas eliminando o que era fraco. Ele, contudo, era cético: — Para mim, é veneno.

Em seguida, Ergan iniciou um interrogatório que chamou de “protocolar”, dirigindo-se a Silvan:
— Qual é a linhagem mágica de vocês?
— Vocês carregam algum artefato ressonante?

Réctor interrompeu com deboche: — Tenho um violão. Ergan constrangeu-se, admitindo que apenas repassava as perguntas sem entender o motivo. Sem respostas conclusivas, deu a missão por cumprida e liberou o grupo.

A morte e a mensagem

Réctor, Haftor, Haldur e os magos dirigiram-se à estalagem, enquanto o Guia, Garuk e Olgaria foram investigar o Rio Calbuen.

A passagem era iluminada por uma chama intensa na outra margem, onde uma pilha de peixes mortos era incinerada. O Guia entrou na água rasa, buscando a causa da podridão. Sentiu um calafrio terrível e uma sensação desagradável na correnteza. Sob a luz oscilante do fogo, teve a certeza de ver uma silhueta estranha formar-se na água e dissipar-se logo em seguida.

Garuk, com suas mãos fortes, rasgou um peixe ao meio. Não havia sinais visíveis de doença nas entranhas; apenas o cheiro de decomposição. O berserker coletou amostras de água e lama para Réctor. Olgaria, sentindo o odor, comentou que lhe parecia familiar. O Guia concordou: cheirava como a chuva negra da Encruzilhada.

•••

Na pequena estalagem, a atendente Belmira, uma mulher de olhar inexpressivo, insistia em servir chá fervido “três vezes”, conforme recomendação de Ergan. O grupo recusou a comida, exceto pelas bebidas alcoólicas aceitas por Haftor e Haldur, feitas com safras antigas de água. Belmira ofereceu caldo de batatas por um preço irrisório, mas Haftor pagou a mais apenas para recusar: — É melhor não nos arriscarmos.

Enquanto se acomodavam no alojamento, Olgaria empalideceu e sussurrou: — Zartam…

Na janela, um majestoso falcão branco pousou, carregando um pergaminho. Réctor recebeu a ave, que partiu assim que a mensagem foi retirada. — Zartam é a sombra da própria Hêrda. Ele só aparece quando o tempo de paz acabou — anunciou a zumi.

Era a resposta da anciã de Odrenvill ao chamado onírico de Réctor:

Meu Filho das Asas,

O sinal que me enviou cruzou as Terras, mais rápido que o vento e mais claro que as águas da Geleira. A Chuva Negra que lhe tingiu o chão já me havia tocado em sonhos, e o luto que ela anunciava era o som do pássaro silenciado. Você viu a sombra, mas não tema: a Luz sempre precede a escuridão.

O perigo se adensa não apenas nas vilas dos homens. Meu espírito visitou os picos de gelo onde a profecia se inicia, e vi a Montanha a lamentar, rachada pela fúria que não é natural. Vi a Aurora em sofrimento, como uma mãe que padece de uma doença lenta. Os fragmentos tremem, e aquilo que a aprisionou no passado busca consumi-la agora.

Não olhe para os lados, Réctor. Seu caminho é para Uno, onde o Coração original repousa. O tempo corre mais frio do que o rio na nevasca. Você deve queimar a dúvida em seu peito. A Luz está sendo Sufocada, não derrotada.

Lembre-se das palavras do nosso povo: a salvação virá com o fogo de quem tem a visão para além do que se vê. Traga-a para casa.

Vá com a bênção da Anciã. Vá com a coragem da Águia.
Hêrda, a Guardiã.

Após a leitura, debateram sobre a “Aurora Gelada”. Olgaria foi enfática: era a salvação das Geleiras. Garuk animou-se, mas Réctor fixou-se nos trechos sombrios. Guardaram a mensagem e decidiram explorar a cachoeira pela manhã.

O milagre e a maldição

No dia seguinte, o grupo dividiu-se novamente. A comitiva da carroça seguiu pela estrada, enquanto os aventureiros subiram o leito do rio. Na cascata, 500 metros acima, o cenário era desolador, embora menos catastrófico que na véspera. Alguns peixes já desciam a correnteza, vivos.

O Guia sentiu o pingente de Dagomir pulsar intensamente sob a armadura. Ao retirá-lo, teve uma sensação agradável na palma da mão. Em uníssono, os cristais da Aurora de Garuk, Réctor e Haftor brilharam em ressonância.

Atendendo a um chamado silencioso, o rastreador mergulhou o pingente na água gelada. O brilho pálido tornou-se rubro e intenso. Uma onda de alívio espiritual varreu o grupo, dissipando a opressão da morte. Réctor, percebendo o fenômeno, voou para buscar Olgaria e Tessa.

Quando a zumi chegou, o Véu da Alvorada também reagiu, mas o rio já estava transformado. As águas estavam puras, límpidas, e a vida retornara. O Guia retirou o amuleto da água: ele estava inerte, desprovido de qualquer magia. O milagre da purificação consumira toda a energia do artefato.

Garuk, pragmático, pescou um peixe com as mãos, comeu a cabeça e declarou: — Está normal. Gosto de peixe!

— Parece que você restaurou o rio, Guia. O pingente usou a energia para purificar tudo — teorizou Réctor, com Olgaria completando animada sobre o poder da Aurora Gelada.

A celebração, porém, foi interrompida. O céu escureceu subitamente, transformando o dia em noite. A opressão gélida da Chuva Negra retornou. Haftor gritou por abrigo. Réctor voou até os magos para coordenar um portal, e ao voltar, desenhou a porta de sua Casa dos Sonhos em uma rocha, instando todos a entrar.

O Guia, contudo, permanecia no rio, buscando a fonte da contaminação. Foi quando viu a silhueta sombria formar-se na água novamente. Desta vez, ela solidificou-se, exibindo um sorriso macabro. A sombra avançou, atravessando o rastreador e congelando-o por dentro. Uma voz gutural e conhecida ecoou:

— Você respira, enquanto eu congelo nesta escuridão. Me dê o calor, aberração… a vida que roubou de mim!

Era Margoth, o Estrígio de Aymon, em sua não-vida implacável.

O Guia tentou usar suas sombras para escapar, mas a criatura o perseguiu pelo próprio plano sombrio. Cambaleando para a margem, ele alertou: — É aquele elfo sombrio maldito, a sombra dele está aqui!

Haftor empunhou o martelo, clamando a autoridade de Crizagom: — PARE! — Mas o morto-vivo apenas riu, sua gargalhada misturando-se ao som das águas.

— Eu terei minha vingança! — prometeu Margoth, dissolvendo-se no rio.

A escuridão amenizou, mas o ar permaneceu pesado. A paz do Vau do Calbuen era uma ilusão frágil.

Vau do Calbuen, Terras Selvagens — Dias 13 a 17 do mês do Sangue, ano de 1502.

domingo, 23 de novembro de 2025

(LA) Sessão 19

O Dradenar

O Arsenal

O alçapão revelava um compartimento amplo, quase do tamanho do refeitório acima. Lá embaixo, o Guia encontrou fileiras de armas, armaduras e ferramentas de combate. Um arsenal esquecido.

Réctor examinava as paredes, enquanto o rastreador buscava sinais no chão. Haftor permanecia de guarda na entrada.

O ambiente parecia intocado havia décadas, talvez desde a morte dos antigos habitantes. Foi Réctor quem notou uma fissura na parede — o traço de uma passagem oculta.

— “Talvez você encontre outra armadura mágica atrás dessa passagem!”, provocou o feiticeiro.

Garuk não hesitou: forçou a junta de pedra e revelou uma porta secreta. Assim que a atravessou, um líquido ácido despencou do teto, queimando parte de seu ombro. O cheiro era do mesmo fluido corrosivo do Dradenar.

O túnel adiante terminava sob o calabouço, onde o ácido se acumulava num ralo que o drenava por uma fenda estreita demais para seguir.

O Guia sentiu ali o cheiro familiar de Thal — o mesmo vestígio percebido nos andares superiores —, mas ele logo se dissipou.

A Capela e o Véu

Haftor improvisou uma ponte sobre o antigo poço, usando móveis do refeitório. Em seguida, guiou o grupo até a capela de Palier.

O templo estava profanado: altares quebrados, ícones religiosos mutilados, inscrições raspadas. Parecia uma revolta contra a fé.

Enquanto refletia sobre a heresia, o anão encontrou uma chave dourada caída entre os escombros. Ela abria uma porta ao norte.

Enquanto isso, o Guia, Garuk e Olgaria exploravam o sul. Numa câmara retangular sustentada por colunas, o rastreador encontrou uma caixa negra de corvear. O fecho, embora antigo, estava destrancado.

Dentro, repousava um pingente oval de cristal da Aurora — um artefato que drenava toda energia mágica ao redor. Sob ele, havia um bilhete escrito por Thal:

“A sombra precisa do fio. A sombra me seguirá.”

O encaixe do relicário, porém, revelava que ali também estivera outro objeto retangular, agora ausente.

O Guia deduziu que Thal o levara consigo, deixando o pingente para trás.

— “O que poderia ser tão importante que o fez deixar isso aqui?”, murmurou o sekbete.

O Laboratório Alquímico

Demétrius abriu a porta ao norte com a chave encontrada por Haftor. O corredor estreito terminava em uma porta ornamentada. Um tremor fez o pó cair do teto, mas seguiram adiante.

O laboratório era vasto e intacto. Frascos, instrumentos e vasos alquímicos enchiam o espaço com um odor doce e enjoativo.

— “Achei que nunca encontraria algo assim nestas terras selvagens…”, disse Dorian, impressionado.

Réctor encontrou um diário apressado, escrito em élfico. O aprendiz o traduziu:

“Irina, o dragão levou a fonte da fúria. Meu trabalho deve continuar.
O verdadeiro poder reside na ordem imposta sobre a fúria.
Devo ir a Autriz. O Véu da Alvorada permanece selado,
longe dos olhos do monstro, mas protegendo vocês dele, conforme o Testamento da Ordem.”

Logo depois, Dorian achou outro manuscrito — queimado, mas legível em partes:

“A Lágrima deverá ser posta na ordem, pois a Fúria só responde ao Corvear purificado…”
“O Compasso da Fúria só pode ser lido na presença da maior ordem…”
“Cópias deste testamento deverão ser arquivadas unicamente em Telas e Blur.”

O grupo não compreendia o sentido completo, mas as palavras “Sombra”, “Fio” e “Véu” pareciam se repetir em todos os contextos.

Sem respostas, Dorian decidiu levar o manuscrito a Telas, enquanto Réctor lhe oferecia poções de cura.

— “São apenas para você”, avisou o feiticeiro.

O Perigo Corrosivo

Pressentindo novo perigo, o Guia subiu sozinho para verificar o andar superior.

A escadaria estava manchada de ácido fresco. Ele projetou sua sombra até a superfície — e o horror se revelou.

Um dos guardas de Frida jazia a poucos passos da saída, o dorso corroído até os ossos.

Os magos haviam fugido. A carroça estava revirada, os cavalos mortos ou feridos. Pela neve, rastros largos serpenteavam em direção à floresta.

Seguindo-os, o Guia encontrou outro guarda agonizando contra uma árvore. O braço dele se dissolvia lentamente sob o ácido.

A sombra percorreu quase um quilômetro até ver o causador da destruição: o Dradenar. O dragão esmeralda rasgava a neve e a terra, caçando os magos em fuga.

O rastreador interrompeu a magia e correu para alertar o grupo.

O Confronto

A distância era grande — e o tempo, curto.

Réctor ativou o anel de portal que pertencera a Demétrius e abriu um arco mágico direto para o campo de batalha.

O plano era simples: resgatar, não lutar. O grupo atravessou o portal — Réctor, Garuk, Haftor, Olgaria e o Guia. Haldur ficou para trás, ainda ferido.

Do outro lado, o caos. Silvan gritava ordens, os aprendizes disparavam feitiços contra o monstro, e Frida tentava resistir. O Dradenar rugiu, cuspindo ácido que derreteu o escudo de Haftor e os restos da armadura da capitã.

O paladino contra-atacou. Sua marreta divina colidiu com o olho do dragão, cegando-o. O rugido da criatura fez a neve tremer.

— “Corram para o portal!” — gritou Réctor.

Garuk arrastou Silvan e Tessa para a passagem, enquanto Lila atravessava sozinha. Frida ainda resistia, mas ao ver o portal vacilar, correu e saltou para dentro.

Haftor foi o último a cruzar, com o rugido do dragão ecoando atrás de si.

O portal se fechou. O grupo estava salvo, por ora. Três guardas haviam morrido, e o Dradenar agora sabia que eles existiam.

Precisavam de um novo plano. E sabiam que, se saíssem da torre sem cautela, o dragão os encontraria de novo.

Torre Branca do Sul, Terras Selvagens — Dia 13 do mês do Sangue, ano de 1502.

quarta-feira, 19 de novembro de 2025

(VS) Sessão 14

Os Mutantes

Hothspoth ouviu passos vindos adiante, seguidos de um som metálico forte que ecoava pelo corredor bem iluminado e repleto de caixas. A curva a poucos metros da sala onde haviam encontrado Astra impedia que vissem o que se aproximava.

Flynn e Hothspoth pediram alguns instantes antes de avançar. Os solarianos sintonizaram os cristais recém-encontrados com suas armas, enquanto Rykk investigava os túneis à frente — apenas para confirmar que todos levavam ao mesmo ponto.

riforiano mutante

A origem do barulho revelou-se uma porta metálica hermeticamente fechada. Ed acessou o terminal ao lado e detectou sinais de vida no interior — alguém, ou algo, tentava forçar a saída. Os sinais indicavam que a contenção não duraria muito.

O grupo se posicionou para o confronto. Quando a trava finalmente cedeu, uma criatura meio-riforiana, deformada e pulsante, irrompeu do interior. Flynn avançou para contê-la, enquanto Hothspoth, ao entrar, viu mais quatro mutantes prestes a escapar. Ele canalizou sua energia e liberou uma Supernova, exterminando dois e ferindo outro.

Um dos mutantes o agarrou, o ácido em sua pele corroendo as ombreiras do solariano, enquanto outro o atacava com uma barra de ferro. Kassius interveio com precisão e abateu o terceiro inimigo. O último, atordoado, foi nocauteado por Flynn após uma luta corpo a corpo.

Quando o silêncio retornou, o grupo investigou a sala onde os mutantes estavam presos. Parecia um dormitório antigo, com baús e pertences pessoais, a maioria sem valor. Mas um item chamou atenção de Flynn: uma fotografia antiga de sua irmã falecida, Irlanda.

Triaxus, Cidade de Orelan — Quinta-feira, 22 de Desnus de 325 DL.

domingo, 16 de novembro de 2025

(LA) Sessão 18

O Covil Selado

A gosma ácida

Réctor foi surpreendido pela gosma que se espalhava sobre o piso metálico. Ao se aproximar da espada que repousava no centro da substância viscosa, viu o líquido ganhar vida e se erguer em fúria.

O monstro tomou forma e foi cercado pelos aventureiros, mas logo perceberam que suas armas de metal eram corroídas pelo ácido intenso que o compunha. Haldur, lutando sobre a nuvem voadora conjurada por Réctor, viu a cabeça de seu machado se desfazer ao contato com a criatura. Em seguida, avançou e puxou a espada que estava submersa — a mesma que o feiticeiro tentara pegar antes do confronto — e percebeu que a lâmina permanecia intacta.

Enquanto os companheiros atacavam, Réctor observava e testava hipóteses. Descobriu que o fogo feria a criatura mais do que o aço, e gritou o aviso aos demais. O Atravessador aproveitou a descoberta e arremessou uma lamparina explosiva, incendiando o monstro. As labaredas, porém, se espalharam perigosamente, ameaçando todos à volta.

Buscando uma solução definitiva, Réctor invocou uma bênção de Plandis. O deus louco respondeu, concedendo-lhe o milagre da Hidromanipulação, que o napol usou para desidratar o inimigo.

Murcha e rígida, a gosma tornou-se vulnerável. Haftor ergueu o martelo e, com um golpe poderoso, atingiu o núcleo metálico da criatura, arremessando-o contra a parede e encerrando o combate.

O núcleo era inteiramente feito de Corvear. Haftor o removeu com esforço, enquanto Réctor analisava o fragmento. Dentro do metal, havia uma substância avermelhada — diferente da gosma ácida que formava o corpo do monstro.

O napol voltou aos registros de Veridion e encontrou uma receita parcial que sugeria a natureza da substância: uma mistura experimental, derivada do veneno de dragão. As informações, contudo, eram incompletas.

Enquanto isso, o Guia coletava amostras do ácido e examinava o maquinário no centro da sala. Juntos, os aventureiros concluíram que o aparato fora criado para derreter e moldar o Corvear.

O covil do dragão

A sala metálica possuía duas portas além da que o grupo utilizara: uma ao norte, trancada por uma trava de ferro; e outra, ao leste, com um bloqueio ainda maior. O Guia liderou o avanço por este caminho.

O corredor terminava em um arco ornamentado, aberto. Além dele, o chão de terra e as paredes de pedra bruta indicavam o fim do complexo subterrâneo. Um ar denso e gases esverdeados subiam das fendas no solo.

Garuk, Olgaria e o Guia avançaram primeiro. No centro do ambiente, viram um martelo repousando sobre um tecido vermelho. Avisaram os outros, e Haftor logo reconheceu a relíquia: o Martelo da Sentença, consagrado a Crizagom. Sob ele, havia uma mensagem deixada por Irina Vingadora:

O chão cedeu. O Dradenar não veio por nós — veio pelo Recipiente!
A Fera sentiu a Fonte da Fúria que o Mestre tentava conter. Que tola fui ao chamá-lo de Mestre.
Ele não é um sábio, é um ladrão de poder que constrói sobre túmulos.
Prometeu Ordem e Conhecimento; deu-nos apenas uma mentira erguida sobre o ninho de uma criatura titânica.
A semana que ele partiu não foi para buscar aliados em Autriz — foi para fugir do que sabia que viria.
Veridion, o Grande Scriptor, nos abandonou. Os pupilos estão assustados; os servos, em pânico.
Os deuses não nos protegerão da húbris de um homem, mas eu protegerei este lugar de seu erro.
Usarei o caldeirão de proteção. É a única chance de ferir a Fera o suficiente para que ela se contente e parta.
Que Crizagom e Palier me julguem: eu me deito aqui para que o Véu da Alvorada não toque o sol.
Que o nome de Veridion seja amaldiçoado pelo seu abandono, mas que a memória do dever prevaleça.

Marreta da Sentença

O ar ácido começou a incomodar os aventureiros, mas resistiram para investigar o local. Concluíram que estavam no covil original do Dradenar, selado pelo mago.

Garuk coletou fragmentos de escamas verdes, enquanto Réctor lançou feitiços de proteção contra o veneno e examinou fungos coloridos que cresciam nas rochas. O Guia procurava rastros humanoides — e não encontrou nenhum, apenas sinais de insetos e animais do subterrâneo.

Foi então que duas aranhas gigantes emergiram das sombras. Uma delas caiu sobre a outra durante o ataque, esmagando sua companheira, mas a sobrevivente ainda investiu contra o Guia. O veneno escorria das presas, e o sekbete resistiu por pouco. O grupo reagiu rapidamente: o rastreador se desvencilhou das garras da aranha, e Haftor, brandindo a Marreta da Sentença, esmagou a criatura contra o chão.

Reinvestigando

Com o covil do Dradenar finalmente seguro, os aventureiros retomaram as buscas. Garuk recolheu quantas escamas pôde carregar, enquanto o Guia coletava o veneno da aranha.

Réctor retornou ao laboratório de Veridion para estudar o dispositivo octogonal que Haldur havia girado antes. Depois de testar diferentes posições, ativou uma nova projeção na parede — novamente mostrando a Cidadela de Autriz, mas de outro ângulo.

— “Do ponto de vista do Krokanon”, deduziu Haftor.

O Guia, frustrado por não encontrar novos rastros de Thal, retornou ao refeitório. Lá, descobriu um alçapão no piso e o abriu: um arsenal esquecido aguardava ali. Armas, armaduras e ferramentas enferrujadas — algumas ainda utilizáveis.

Ainda havia o que descobrir sob a Torre Branca do Sul.

Torre Branca do Sul, Terras Selvagens — Dia 13 do mês do Sangue, ano de 1502.

domingo, 9 de novembro de 2025

(LA) Sessão 17

As Ruínas do Covil

O rastro de Thal

O Guia desceu o alçapão, guiado pelo odor familiar de Thal, seu antigo mentor sekbete. Encontrou uma sala vazia, impregnada por uma sensação mágica que se dissipava lentamente. Após verificar que o ambiente era seguro, fez um sinal para que os companheiros o seguissem.

Os aventureiros exploraram cada canto do piso ladrilhado. Quatro colunas de rocha, cobertas por inscrições élficas danificadas, chamavam atenção.

— “Parece um ritual ou algo do tipo, que foi apagado.” — observou Haftor. Réctor confirmou: os sulcos raspados haviam desfazido um encantamento.

À direita da entrada, Haftor avistou uma capela dedicada a Palier, profanada e repleta de destroços. Antes que pudesse se aproximar, o Guia o chamou. O rastro de Thal seguia por uma passagem estreita, e ele atravessou-a com seu passo umbral.

O corredor levava a uma cela escura. No interior, restos mortais de criaturas humanoides — mas nenhum sekbete.

— “Os ossos foram corroídos, não roídos.” — notou o rastreador, ao ver as paredes recobertas por um líquido verde e ácido. O cheiro de Thal ainda estava presente, mas o rastro se extinguia ali.

Réctor examinou o local e descobriu um ralo largo no centro da cela. Mergulhado em um ácido viscoso, puxou uma corrente presa a um porta-retrato. Dentro, a imagem de uma anã ruiva e guerreira.

O desafio sufocante

Enquanto isso, o restante do grupo explorava outro cômodo, dominado por um grande caldeirão de líquido fervente. Haldur seguia por último, mantendo Demétrius sob vigilância.

Réctor tentou recolher uma amostra do fluido, mas o ácido espirrou e queimou suas mãos. Uma poção de cura reduziu a dor, embora a cicatriz persistisse.

Quando o Guia retornou da investigação, ajudou Garuk a abrir caixas de pedra próximas. Dentro, encontraram ossos e ferramentas antigas — objetos aparentemente descartados.

Uma porta maciça separava o ambiente de outro setor. Coagido por Réctor, Demétrius conseguiu destravá-la. O Guia, ao aproximar-se, sentiu o cheiro úmido de água parada.

Do outro lado havia uma enorme piscina quadrada, de água límpida e profundidade imensa. Para sondar o fundo, o rastreador mergulhou, deixando Olgaria e Réctor à espera.

Logo após o mergulho, a porta se fechou sozinha e dutos começaram a encher o cômodo de água.

— “Não se preocupe.” — disse Réctor, sereno. — “Se a água subir, farei você respirar nela.”

No fundo, o Guia encontrou uma chave e tentou investigar algo escondido sob um ladrilho — apenas um prego enferrujado. Ao perceber o perigo, nadou rapidamente e usou a chave na fechadura. A água cessou e começou a escoar.

O rastreador manteve os companheiros firmes na parede até que a piscina se esvaziasse por completo.

A mensagem final

O fosso seco revelou um corredor que levava a um refeitório em ruínas. O ar cheirava a comida podre; potes e panelas continham restos de gordura e carne em decomposição. Enquanto o Guia examinava uma trilha de sangue, Réctor vasculhava os recipientes e encontrou um pergaminho conservado dentro de um pote. Ao abri-lo, leu em voz alta o relato de um sobrevivente — o escriba Tirum.

A carta do escriba
O chão... o chão não parava. Mas não era como os tremores que o Mestre causava nas abóbadas de cristal. Estes vieram de baixo, um ruído rouco de esmagamento, a própria rocha gritando. Um som antigo, que o Mestre sempre disse que era apenas a floresta se acomodando. Engano. Era a besta, reivindicando seu lar.

O Mestre Veridium já havia partido. Uma semana. Ele nos deixou com Irina e a instrução: 'Se a calamidade vier, protejam a si mesmos e o que não pode ser tocado'. Calamidade veio.

Quando a coluna central do Pátio Principal cedeu, aquela escama verde e úmida irrompeu. Não queria comida. Queria o Recipiente — o objeto que o Mestre usava para nos proteger. Lutamos, nós, os servos, com varas e feitiços fracos. Nossos ossos eram de palha contra sua Fúria.

Irina, minha mestra em táticas, percebeu o erro. O Dradenar só iria parar quando encontrasse o que procurava. Ela me deu tempo. Usando o caldeirão de proteção do Mestre, ela desceu. Lembro-me apenas do brilho, do cheiro de carne queimada e do berro de dor da fera. Ela feriu o bicho, deuses a abençoem.

Eu a encontrei depois. Deitada onde deveria estar, na honra. Fiz o que pude, o que me era permitido. Não consigo subir mais, a entrada superior desabou. Estou aqui, agora, com este relato. O som de passos me alcança. O Mestre falhou: não foi sua magia que causou nossa ruína, mas sua ousadia em construir o nosso refúgio sobre o ninho de outro.

Que este pergaminho chegue a alguém. Que a memória de Irina Vingadora seja lembrada por quem se atreva a olhar para a escuridão. Eles estão vindo. Preciso trancar a porta.

— Tirum, o Escriba. Que o esquecimento me encontre em paz.

O Guia abriu a porta adiante e encontrou o corpo mumificado de um homem. Vestia túnicas verdes e azuis, adornadas com prata, e trazia uma varinha presa ao cinto — um focus mágico, segundo Réctor. Um punhal enferrujado jazia ao seu lado.

A sala seguinte era uma biblioteca de rochas e runas. Haftor tomou um livro de geologia, enquanto Réctor examinava a estante e descobriu um volume fixo — uma alavanca.

O mausoléu de Irina

O Guia, Garuk e Olgaria exploraram a passagem lateral que conduzia a um mausoléu esculpido em mármore branco, adornado com colunas e estátuas. Um tampo ornamentado se destacava no centro, coberto por runas em anão antigo.

Garuk, curioso, olhou para o Guia e disse: — “Na última tumba eu achei um machado. Vamos ver o que tem aqui dentro.”

Os dois sekbetes removeram o tampo com cuidado, revelando os restos mortais de uma anã ruiva, vestindo uma armadura feita de ossos robustos. Um machado enferrujado repousava sobre o peito dela.

Na parte inferior do tampo, um epitáfio em anão profundo dizia:

Irina Vingadora, a guardiã:
sua lealdade foi a única muralha que a fera silvestre não pôde derrubar.
Ela se deitou aqui para que o segredo não tocasse o sol.
Que sua honra seja o castigo de todos os que constroem sobre o ninho de outro.

O Guia identificou a marca no pescoço da anã — o mesmo sinal que Réctor havia visto no retrato retirado do ácido. A conexão estava confirmada: aquela era Irina, a guerreira do relato de Tirum.

O estudo secreto

A alavanca na biblioteca revelou outro caminho, conduzindo a um laboratório secreto. No centro, uma plataforma hexagonal sustentava um pedestal vazio; três torres de energia zumbiam ao redor.

Demétrius foi atingido por um raio ao se aproximar, mas sobreviveu. Réctor enviou Sombra para investigar, e a criatura confirmou tratar-se de um feitiço elétrico. O feiticeiro enfrentou a dor dos choques e dissipou a magia com um contra-feitiço.

Haftor avançou pela passagem lateral para um laboratório ainda maior e encontrou uma esfera de metal negro — quebrada, oca, como se algo tivesse sido arrancado de dentro.

Nas anotações de Veridion Scriptôr, Réctor leu sobre o Corvear, um metal capaz de conter energia titânica, usado na criação de um artefato chamado Recipiente.

No pedestal ao lado, Haftor girou duas esferas douradas e ativou uma projeção na parede: um mapa indicando a Cidadela de Autriz, nas Geleiras.

— “É o mesmo nome que vi na abóbada da torre.” — comentou o Guia.

O rastreador seguiu um novo rastro — uma gosma verde e viscosa espalhada ao redor de uma máquina arcana. Dentro dela repousava uma espada dourada e restos de carne queimada. Ao se aproximar, a substância se agitou e ganhou forma.

O combate era inevitável.

Torre Branca do Sul, Terras Selvagens — Dia 13 do mês do Sangue, ano de 1502.

sexta-feira, 7 de novembro de 2025

(VS) Sessão 13

A Subestação de Krevlan

Discrição perdida

O confronto na ruela de Krevlan chegou ao fim, e Hothspoth aproximou-se do corpo do riforiano sedado.

— “Flynn, me ajuda aqui — a ponta do dardo quebrou no pescoço dele.” — disse o solariano, preocupado.

O companheiro se abaixou e examinou o ferimento. A perfuração era delicada, e Flynn concluiu que não possuía os instrumentos adequados — nem um ambiente seguro — para remover o fragmento. Hothspoth considerou levar o prisioneiro até o carro de Rykk, mas o trajeto pelas ruas quentes e movimentadas chamaria atenção demais.

Com isso, o draconiano alçou voo e transportou o riforiano até o terraço de um prédio próximo, pousando-o junto a uma antena. Lá, Flynn conseguiu remover o fragmento com segurança.

Com o ferimento resolvido, surgiu outro problema: uma câmera de vigilância. Apesar da precariedade de Krevlan, o distrito era coberto por dispositivos de monitoramento. O terraço onde estavam não possuía câmeras governamentais, mas uma lente particular sobre a porta de acesso vigiava o local.

Ed rapidamente invadiu o sistema e descobriu que o servidor das imagens ficava no andar de baixo. Porém, usar a escada principal chamaria atenção dos moradores. Rykk levou Ed até o prédio vizinho para tentar observar pela janela, mas a escuridão impediu qualquer visão clara.

A dupla elaborou um plano: Rykk se aproximaria da janela enquanto Ed entraria para apagar as gravações. Contudo, o plano falhou. No meio do voo, uma pedrada atingiu o draconiano.

— “Ladrão!” — gritou um riforiano do chão.

— “Calma! Eu sou do Ministério — estou estudando uma patologia!” — respondeu Rykk, tentando convencê-lo.

O riforiano, que se apresentou como Kélix, acabou acreditando na encenação, aceitando que Rykk era um agente e Ed, seu guarda-costas. Ele comentou que a casa em questão pertencia a um homem chamado Antrus. Posando de funcionário do Ministério da Saúde, Rykk perguntou sobre doentes com SMD.

— “Sim, conheço uma mulher.” — respondeu o riforiano.

Quando a conversa se esgotou, os dois retornaram ao grupo. Decidiram desistir de invadir o sistema.

— “Vamos jogar a merda no ventilador.” — disse Rykk, resignado, referindo-se às imagens que já haviam sido registradas.

Antes de partirem, o draconiano implantou um software rastreador no comunicador do riforiano desacordado e o deixou amarrado no terraço — com esperança de encontrá-lo ali ao retornar.

A subestação contaminada

As ruas estreitas de Krevlan levavam a um terreno mais limpo e isolado — ali ficava a subestação. As casas vizinhas mantinham os fundos voltados para ela, como se evitassem o contato.

O portão de acesso foi aberto com o cartão que Rykk recebera de sua mãe.

— “Bem-vinda, Sirena.” — anunciou a voz robótica do computador quando o draconiano inseriu a credencial.

Logo ao entrar, Ed sentiu dor no braço. Os solarianos também perceberam algo estranho. Hothspoth teve uma sensação de déjà-vu, enquanto Flynn notou uma interferência em sua conexão com a energia solar.

A fonte do desconforto estava em um transformador defeituoso. Hothspoth sentia a radiação sepulcral emanando dali. Flynn identificou uma válvula solta, expelindo vapor fluorescente. Ignorando o risco, reconectou o duto com suas ferramentas e conteve o vazamento. Gravada no metal do transformador, uma mensagem vandalizada dizia: “Krevlan ferveu. A areia é o trono do traidor.”

Rykk concluiu que aquilo refletia o ressentimento dos riforianos, talvez vítimas de desapropriação quando a subestação foi construída.

Em seguida, usou o cartão na porta da sala de controle.

— “Bem-vinda, Sirena. Confirmação biométrica necessária.” — anunciou o sistema.

Ed foi rápido: conectou seu terminal portátil e burlou a autenticação. Rykk passou o cartão novamente, e sua própria biometria bastou para liberar o acesso.

O interior da sala era amplo e impecável. No centro, uma mesa circular metálica cercada por terminais luminosos. Painéis dispostos em três arcos concêntricos exibiam dados pulsantes, e trilhos metálicos cruzavam o chão polido.

O som constante do magnetismo foi interrompido por um ruído mecânico. Hothspoth avançou e encontrou um robô de serviço: corpo esguio, cabeça monocular e esteiras magnéticas no lugar das pernas.

— “Você não deveria estar aqui.” — alertou a máquina.

Ao ouvir Rykk tentar convencê-lo, respondeu: — “Eu conheço os protocolos.”

O robô iniciou uma transmissão. O grupo bloqueou o sinal, mas o autômato continuou:

— “Estou alertando as autoridades. Deixem a estação ou serão detidos em dez minutos.”

Rykk percebeu o blefe. Hothspoth, irritado, destruiu o robô com um golpe.

Ed iniciou o protocolo de instalação do dispositivo enviado por Grutingrafgnaw, enquanto Flynn e Kassius mantinham vigilância. Flynn percebeu uma trilha de fluido de transporte — usado em androides — levando a um alçapão.

Quando Ed ainda finalizava o processo, Kassius arrombou a passagem e desceu com Flynn. O restante permaneceu operando os terminais. Rykk aproveitou para consultar os registros do sistema e encontrou três nomes de usuário: hierofante_beta_7, orelan_admin e grutingraf. A última identificação o fez gelar — sua mãe tentara acessar o local recentemente.

O calabouço

Assim que Ed terminou a instalação, ele, Hothspoth e Rykk desceram para se reunir a Flynn e Kassius. O guerreiro forçava uma porta no fim do corredor metálico. Ao abri-la, revelou um ambiente iluminado por lâmpadas amarelas, câmeras no teto e duas portas laterais.

Hothspoth foi o primeiro a investigar. Ao abrir a da esquerda, encontrou jaulas contendo restos mortais. Uma delas estava suspensa sobre um maquinário que emitia pulsos de radiação — talvez o núcleo das anomalias. O solariano deixou o local, inquieto, e foi até a sala oposta.

Enquanto isso, Ed, Flynn e Rykk analisavam melhor as celas. Um dos corpos parecia intacto — e logo perceberam que não era cadáver, mas uma androide. A mulher metálica estava viva, consciente, mas paralisada — apenas os olhos se moviam.

Astra

Com paciência, Ed e Rykk compreenderam que ela precisava de fluido de transporte para funcionar e que as jaulas poderiam ser abertas a partir da oficina do outro lado.

Hothspoth e Kassius, na oficina, improvisavam uma réplica do fóssil âmbar. O solariano acreditava que o artefato falso poderia ser entregue ao Ministério, conforme Rykk prometera, mas Flynn discordava: as câmeras os denunciariam assim que saíssem dali.

Ignorando a discussão, Ed abriu a jaula da androide. Rykk encontrou um recipiente com fluido na oficina e o verteu em sua boca. Em poucos instantes, ela se recompôs.

— “Meu nome é Astra.” — disse, em tom suave e metálico.

Explicou que fora capturada enquanto realizava trabalho voluntário em Triaxus. Não sabia o motivo, mas prometeu ajudar o grupo até escaparem juntos.

Os aventureiros decidiram seguir em frente. Batidas metálicas ecoavam no corredor à frente — sinais de que a subestação guardava mais segredos. Eles avançaram...

Triaxus, Cidade de Orelan — Quinta-feira, 22 de Desnus de 325 DL.

domingo, 2 de novembro de 2025

(LA) Sessão 16

A Torre Branca do Sul

A despedida de Trisque

Haftor percebeu, no semblante dos presentes, que ali não era o seu lugar. “Essa cidade quer apodrecer sozinha”, disse, ao não ver atendido seu pedido a Crizagom. Para o anão, Trisque não merecia ser salva. Com isso em mente, levantou-se e deixou a sala do funeral.

“Parta, paladino” — disse Táviga, enquanto ele saía. — “Minha natureza bondosa não me permite condená-lo por não compreender nossos costumes e a cultura do vilarejo.”

Indignado com o que presenciara, Haftor percorreu o caminho de volta à taverna. Ao cruzar com dois guardas que patrulhavam a praça central, tentou alertá-los sobre a influência de Táviga. No entanto, suas palavras repercutiram mais para si mesmo do que para os guardas, que mal compreenderam o significado de seu aviso.

Frida

Enquanto isso, Réctor, acompanhado de Garuk e Olgaria, pediu que Frida lhes mostrasse sua embarcação. Depois do aceite, o trio foi levado ao trapiche para embarcar num bote, mas, após discutirem sobre a capacidade das embarcações, decidiram subir os três — e Frida — na nuvem voadora criada pelo napol.

A tripulação do navio de Frida observava os aventureiros com curiosidade, especialmente o sekbete e o napol. Garuk, por sua vez, mostrava interesse em conhecer “o balestra” que, segundo ouviu, seria forte o bastante para perfurá-lo. Frida mostrou-lhe as duas armas acoplada à proa do navio, para sua leve decepção.

Rector também tinha dúvidas: — “Como esse navio se move no gelo?” — perguntou. A capitã explicou que os magos haviam auxiliado a travessia durante o congelamento das rotas. Como gesto de cortesia, o feiticeiro presenteou a tripulação com algumas de suas poções.

Encerrada a visita, os aventureiros retornaram à taverna e à Casa dos Sonhos para descansar.

Enquanto isso, o Guia observava de longe a visita de seus companheiros. Com seus olhos magicamente aguçados, via o convés do navio de Frida enquanto se ocultava no bosque próximo à praia. Porém, foi alertado por um bater de asas: Lúcius voava sobre ele, sem perceber sua presença.

O meio-corvo entrou no estábulo, seguido furtivamente pelo sekbete. O Guia usou seu Passo Umbral para atravessar as paredes de madeira e surpreender o napol.

Lúcius foi encontrado com um porta-pergaminho nas mãos, sozinho. Questionado sobre o que fazia ali, despistou: — “Só vim ver como estavam os animais. Já terminei.” — disse, antes de bater asas e partir.

O Guia investigou o local e encontrou sinais de escavação — provavelmente onde Lúcius tentava esconder o objeto. Intrigado com o conteúdo que Táviga tentava ocultar, decidiu segui-lo.

Pelo faro, rastreou o napol até a casa grande. Lúcius encontrou-se com Táviga na sala do funeral e conversou em tom sério. Depois, a meio-orca saiu com Dolmuk para um diálogo reservado. O Guia os surpreendeu, mas não conseguiu decifrar o teor da conversa.

A estadia dos aventureiros em Trisque chegava ao fim — e Táviga permanecia impenetrável.

A viagem para o leste

Demétrius despertou sob pressão.

Antes de deixarem Trisque, o Guia queria garantir que o Atravessador não conhecia o conteúdo do pergaminho entregue a Táviga. Segurou o humano pelo colarinho e o lançou ao chão: — “Você vai ser o primeiro que eu vou rasgar em pedacinhos, tá? O primeiro que vai morrer é você!”

Garuk interveio, ameaçando o prisioneiro: — “Se tentar fugir, eu te persigo até o inferno.”

Após as ameaças, o grupo reuniu-se com a caravana de Frida. Ela era composta por quatro guerreiros, quatro magos e uma carroça puxada por dois cavalos — destinada à carga e aos magos. Os seis aventureiros viajariam com Demétrius e seus próprios cavalos.

Enquanto partiam, os aldeões de Trisque cuspiam no chão ao vê-los passar. Os magos, confusos, precisaram ouvir de Haftor que a hostilidade se dirigia apenas ao Atravessador.

Na saída da cidade, Táviga acenou do estaleiro, ostentando um sorriso ambíguo — talvez falso, talvez de triunfo.

A viagem começou pela rota até o vilarejo da Encruzilhada. No caminho, Réctor apresentou sua Casa dos Sonhos aos magos, despertando grande admiração. Tessa, especialmente curiosa, só ficou satisfeita após compreender que a construção existia em Dartel.

Embora o destino dos magos fosse Telas, Réctor os convenceu a desviar para investigar a Torre Branca do Sul, alegando que lá poderiam encontrar mais prismas como os de Garuk.

A caravana entrou na estrada precária que cortava a Floresta Gélida de Gingord. O percurso até a torre levaria dois dias.

Na floresta congelada, encontraram marcas de uma criatura colossal — garras que haviam rasgado a pedra. Garuk e o Guia investigaram e concluíram tratar-se de um predador reptiliano caçando uma presa gigantesca.

“Vejo o rastro de uma coisa muito grande... mas não é só o rastro. Tem marcas de arrasto. Parece que o bicho foi arrastado. O rastro vem da direção da torre.” — analisou o Guia.

Seguindo os rastros por duzentos metros, o grupo chegou a uma clareira. Árvores caídas e copas despedaçadas indicavam o ponto final da caçada — o local onde algo gigantesco alçara voo.

O cheiro de carniça dominava o ar. Sob as copas caídas, Olgaria encontrou o braço decepado de um gigante do gelo — do tamanho de um cavalo.

Réctor recolheu parte da carne em decomposição para compor suas rações, enquanto Garuk aproveitou os ossos para fabricar ferramentas.

Discutindo o que poderia ter causado aquilo, Haftor apostava num dragão; Réctor cogitava uma aedra.

Após a investigação, o Guia limpou a estrada, removendo troncos e abrindo caminho para as carroças.

A Torre Branca do Sul

O Guia acreditava que a floresta era apenas a área de caça do monstro, e que o covil estaria em outro lugar. Mesmo assim, avançaram com cautela.

A caravana alcançou a torre no meio do segundo dia. A estrutura em ruínas erguia-se sobre uma colina. Dorian, o mago, identificou o local como uma obra de geomanipulação antiga.

As portas estavam abertas, e um odor forte de ovo podre — talvez enxofre — tomava o ar. O Guia, com seu olfato aguçado, notou que o cheiro vinha dos andares superiores.

Enquanto o grupo se preparava para explorar, Frida decidiu que ela, seus homens e os magos aguardariam do lado de fora. Silvan pediu que o informassem caso encontrassem algo parecido com os prismas de Garuk ou as pedras de Réctor.

Demétrius insistiu em acompanhá-los. Sacando uma adaga de seu baú, declarou que não estaria indefeso.

Réctor sobrevoou a torre e observou janelas quebradas e corpos parcialmente carbonizados. Alguns exibiam apenas ossos voltados às janelas — como se algo tivesse arrancado-lhes a carne.

No terceiro andar, o Guia encontrou dois ovos de dragão partidos e, sob destroços, utensílios de cozinha. O sekbete logo relacionou os objetos ao gigante morto na floresta: ele provavelmente roubara os ovos e fora caçado pelo dragão.

Com a ajuda dos companheiros, o Guia chegou ao último andar. Haftor avaliou que a estrutura era instável demais para Garuk saltar, então os dois ajudaram a erguer o rastreador com as próprias mãos.

O topo da torre era uma abóbada parcialmente preservada. O vidro remanescente exibia marcações alinhadas ao horizonte — um geolábio ancestral que indicava o Domo de Arminus, em Telas, o vilarejo de Trisque e a Cidadela de Autriz, nas geleiras. As demais inscrições estavam destruídas.

Sob a vegetação da base da torre, Réctor avistou um grande alçapão. Ao abri-lo, revelou uma escadaria descendo para um calabouço escuro.

“Sinto um cheiro muito forte... de bicho, de coisa estragada. Não parece vazio.” — disse o Guia.

Um instante depois, outro aroma lhe chegou — familiar e inconfundível: o cheiro de seu amigo Thal.

Trisque e Floresta Gélida de Gingord, Terras Selvagens — Dias 6 a 13 do mês do Sangue, ano de 1502.