O Luto Velado
O Porto
Antes de partir para investigar por conta própria, o Guia alertou o grupo sobre a aproximação de uma frota de navios e os gritos vindos da praça mencionando o “Ancião”. Um navio grande e três pesqueiros haviam atracado. Os pesqueiros traziam o corpo do Ancião, que havia morrido no mar.
O Guia desceu até a praia, movendo-se de forma encoberta. Usou a magia Olhos das Sombras para projetar sua consciência e se deslocar pela sombra do grande navio, em busca de informações.
Enquanto se movia pelas sombras, já na embarcação maior, percebeu uma grande variedade de cheiros — a maioria humana, mas também de elfos ou meio-elfos e até o cheiro de esterco animal.
Ele se dirigiu até a cabine do comandante, que estava vazia. O interior era ostentoso: o piso de madeira polida refletia a luz, e havia estantes com livros. Sobre a mesa principal, repousava um grande tomo (de aproximadamente 50x50 cm, abrindo para quase 1 metro).
O Guia percebeu que o símbolo heráldico gravado no tomo era o mesmo que estava na vela do navio. Não conseguiu identificar sua origem, sabendo apenas que não pertencia a Caridrândia, Blur ou Uno.
Enquanto isso, Rector voou em direção à área de Táviga para observar melhor a movimentação. Foi então que encontrou a comandante Frida — responsável pelo navio maior — e um grupo de magos. Eles se apresentaram como Silvan (líder), Tessa (anotadora e observadora), Dorian e Lila (aprendizes elementalistas). Rector os convidou para a taverna, propondo uma conversa com mais calma.
Enquanto isso, Haftor juntava-se à procissão que levava o corpo do Ancião, sentindo-se obrigado a participar por seu senso de dever. O comandante da milícia, Taros, se aproximou dele e explicou que o Ancião morrera “fazendo o que gostava”.
Taros mencionou ainda que agora seria necessário esperar que Dolmuk, o sucessor imediato, abdicasse conforme havia prometido. Haftor concordou, comprometendo-se a se concentrar apenas na cerimônia.
Os Magos
Enquanto a vila se preparava para o funeral, Garuk e Haldor permaneceram na Casa dos Sonhos com Demétrius, o atravessador, que finalizava o mapa que havia sido ordenado desenhar durante a noite.
Garuk manteve a pressão sobre o homem, lembrando-o em tom ameaçador: “— Só te lembrando, não sou o seu amigo… você tem a oportunidade de fazer com que eu não seja o seu inimigo, só depende de você”.
Após a conclusão do mapa, Garuk o levou até o Guia, que avaliou o trabalho como “muito bem feito”.
Enquanto isso, na taverna de Trisque, o encontro com os Magos do Conhecimento se desenrolava. Eles explicaram que haviam vindo de Runa, cidade do reino de Pórtis, com o objetivo de investigar uma energia diferente captada no Domo pelo Colégio do Conhecimento em Telas.
Logo se percebeu que a busca deles e a do grupo pareciam convergir, pois aquela energia poderia estar ligada à lenda da Aurora Gelada.
Os magos mostraram grande interesse pelo Prisma que o grupo carregava: “— É exatamente por coisas como essas que estamos procurando!”, disse Silvan.
Rector permitiu que a elfa (Lila) examinasse a esfera, mas quando Silvan tentou tocar o Prisma de Garuk, este o puxou rapidamente, alertando: “— É perigoso encostar os dois”. Silvan retrucou, dizendo que não tentaria algo “tão estúpido”.
O grupo passou rapidamente a discutir problemas internos. O Guia estava preocupado com o tempo que Haftor e Réctor pretendiam ficar em Trisque. No entanto, o tom elevado da conversa revelou o contraste entre o grupo e os magos. Falando em élfico, Silvan e seus aprendizes questionaram se o grupo estava “brigando entre si” ou se aquele era o “modo selvagem deles de agir”.
O Guia, que entendeu a provocação, respondeu em élfico, batendo na mesa: “— Você sabe que o nome disso aqui é Terras Selvagens, né?”.
Surpresos ao descobrir que Rector e o Guia falavam élfico, os magos insinuaram se eles tinham aprendido o idioma com os “infames elfos sombrios”. O sekbete respondeu friamente: “— É difícil aprender enquanto tá tomando chicotadas”, revelando em tom amargo um fragmento de seu passado em Caridrândia.
O diálogo continuou com Rector mostrando algumas de suas poções. Os magos demonstraram curiosidade, especialmente Tessa, que anotava detalhes. O feiticeiro explicou que sua magia vinha da natureza, ao que Silvan respondeu com arrogância: “— A diferença entre nós é que eu posso compartilhar meu conhecimento”.
A tensão se manteve no ar até que os magos encerraram a conversa de modo protocolar, demonstrando polidez. O acordo, que havia sido desenhado ainda no porto, foi fechado na mesa da taverna: o grupo escoltaria os magos e sua comitiva até Telas. Embora eles confiassem em Frida e nos guerreiros que a acompanhavam, também diziam que precisariam de guias para levá-los pelos caminhos mais seguros até a cidade junto ao Domo.
Os aventureiros não negociaram um pagamento. No entanto, Rector perguntou se ele poderia ter acesso ao colégio do conhecimento quando chegasse lá. Silvan não foi conclusivo, alegando que seria necessária uma autorização expressa do reitor, mas disse ser possível.
O Funeral
Garuk, o Guia e Olgaria retornaram para a casa dos sonhos de Rector antecipadamente. O rastreador acordou o Atravessador para perguntar-lhe se mais alguém além de Guzur estava atrás dele, e também para saber se era possível que o orco estivesse espreitando nas proximidades.
Demétrius foi enfático em dizer que não tinha mais inimigos, e que a última notícia que havia escutado sobre Guzur, há três meses, afirmava que ele estava muito distante para oeste.
Da praia, o corpo do ancião foi conduzido até a casa grande, onde os aldeões se reuniram para falar sobre a vida dele e sobre a vida do próximo líder do vilarejo. Haftor acompanhava tudo de perto, em silêncio.
Algumas horas depois do início, a mestre da cerimônia convocou Dolmuk, o sucessor natural do antigo ancião. Com voz trêmula e desviando o olhar de Haftor, o velho humano iniciou seu discurso sem dar sinais de que desistiria da função.
Haftor teve paciência, embora lançasse olhares ameaçadores de desaprovação para Dolmuk. O sucessor sentia-se pressionado, mesmo sem o martelo do paladino se erguer contra ele.
“— Eu não sou digno da posição que vocês esperam que eu assuma... eu abdico do meu dever para Trisque.” — anunciou Dolmuk, depois de muito tempo bajulando a antiga memória do ancião.
Haftor o encontrou na sala ao lado da cerimônia. Dolmuk sentia-se um covarde, mas o paladino tentou animá-lo, dizendo que ele fizera a coisa certa. Ambos retornaram para a sala e assistiram à mestre de cerimônias, surpresa, retomar o controle e anunciar que a próxima da fila seria Lismira.
A nova sucessora já estava preparada para seu discurso, pois Haftor a havia alertado na noite anterior. Assim, ela começou a discursar e falar sobre sua história.
Táviga e seu bando chegaram durante o discurso de Lismira. Enquanto a meio-orca sentou-se na frente, Krell e Zira foram para trás, enquanto o restante ficou na sala da escada.
A sucessora do ancião tinha uma boa retórica, mas ela foi suplantada pela habilidade de Táviga. A meio-orca encontrou uma brecha no discurso para se intrometer. Suas palavras eram cativantes, narrando feitos marcantes do ancião e relacionando a história dele com a dela.
Haftor prestava atenção com afinco. Porém, demorou a notar que o discurso da meio-orca havia mudado de veneração ao falecido para auto-promoção. Quando abriu os olhos para isso, interveio:
“— Calada!” — bradou Haftor, invocando um milagre de Crizagom. No entanto, o deus da justiça não interveio por ele. Táviga sorriu e aproveitou-se da oportunidade para desmoralizar o anão: “— Pelo jeito o paladino ainda não entendeu os costumes e a cultura de nosso vilarejo. Eu estou aqui honrando o ancião e o senhor interrompe manchando a sua reputação.”
Haftor viu os olhares dos aldeões virarem-se para ele em desaprovação. A meio-orca justificava em cada passo a razão da influência que possuía em Trisque, e não seria fácil para Haftor desfazê-la.
Trisque, Terras Selvagens, dia 6 do mês do Sangue do ano de 1502

Nenhum comentário:
Postar um comentário