A luta pelo último cristal
O Guia identificou o monstro como um ogro. Ele golpeava a última pedra, que parecia emanar uma energia mística, mas os aventureiros não pretendiam deixá-lo destruí-la. Assim, posicionaram-se em formação de ataque e avançaram contra o inimigo.
Garuk iniciou o confronto com uma investida furiosa. O sekbete foi surpreendido pela agilidade da criatura, que desviou o golpe usando os próprios braços. O Guia também tentou atacar o ogro, mas foi repelido da mesma forma. O monstro demonstrava não apenas força bruta, mas também velocidade.
Por estar concentrado em destruir a pedra brilhante incrustada na parede, o ogro demorou a reagir com violência. Porém, quando finalmente contra-atacou, quase derrubou Garuk. O sekbete recuou e pediu apoio ao sacerdote e a seus milagres. Nesse momento, Olgaria e Sombra avançaram em conjunto, reforçando a linha de frente.
Apesar do poder destrutivo do ogro, ele não era páreo para a união e as estratégias do grupo. Quando o Guia conseguiu acertá-lo na parte de trás da perna, forçando-o a ajoelhar-se, Sombra aproveitou a brecha e saltou em seu ombro. O ogro, em desvantagem, virou as costas para Rector, que disparou uma flecha certeira de seu arco élfico contra a nuca do inimigo. O ogro tombou morto.
O segredo da catacumba de gelo
O grupo se dividiu: alguns desejavam explorar as rochas e as ruínas da Torre de Gelo Quebrada, enquanto outros preferiram vasculhar o corpo do inimigo caído. Olgaria, por sua vez, sentou-se para descansar junto à parede em ruínas.
Garuk e o Guia examinaram o corpo do ogro. O Guia apanhou o pesado martelo de guerra e o tomou para si, enquanto Garuk não encontrou nada de valor. Rector e Darion, por outro lado, estudavam as pedras que o ogro havia atacado. A rocha incrustada na parede irradiava um brilho pálido semelhante ao do Cristal d’Aurora, mas não idêntico.
O feiticeiro retirou de sua bolsa o Cristal que carregava e o aproximou da rocha. O grupo ouviu uma vibração intensa, acompanhada por um ruído estridente de vidro em choque. Rector pediu que todos recuassem e avançou mais um passo. A rocha estourou e desabou no chão, revelando um objeto hecatoédrico polido, com a mesma chama pálida do Cristal d’Aurora.
Darion o recolheu e percebeu uma ressonância estranha entre os dois cristais. Um lampejo atravessou sua mente: a visão de um guerreiro humano, em armadura azul, golpeando com um machado uma guerreira muito maior do que ele. A cena desapareceu tão rápido quanto surgira, sem lhe dar respostas.
Rector entregou os cristais a Garuk, que os uniu de imediato. Uma explosão de luz os envolveu. Rector foi obrigado a fechar os olhos, e os demais se viraram para ver o que acontecera. Garuk jazia no chão, com os braços queimados pela reação. O Cristal d’Aurora permanecia cravado na parede ao seu lado, enquanto o hecatoedro fora lançado a dezenas de metros, por pouco não atingindo os cavalos presos fora da torre.
Avançando na exploração, Darion encontrou uma passagem bloqueada por uma grade. Garuk a arrombou com seu machado e o Guia acendeu uma tocha para iluminar o caminho. O andar inferior era pequeno, gélido, e suas paredes eram feitas de gelo cristalino.
Logo à frente da escadaria, um altar exibia um machado de batalha forjado em chama pétrea, um raro mineral. Garuk ficou tentado a tomá-lo de imediato, mas o grupo optou por investigar o local primeiro.
Rector identificou a estrutura como feita de gelo perpétuo, certamente obra mágica. Já Darion deduziu, por evidências arqueológicas, que tinha pelo menos dois milênios de idade. Além do altar, havia dois pedestais cobertos por moedas de ouro antiquíssimas, ofertadas em respeito ao morto.
No centro, um túmulo exibia uma inscrição em língua perdida, da qual apenas o nome “Garok’Drakul” pôde ser compreendido. Darion pediu auxílio divino. Pi-Toutucam, deus da diplomacia e do comércio, respondeu à prece: tratava-se do idioma dos povos antigos das geleiras. Com esse conhecimento, o sacerdote invocou um milagre e leu a inscrição:
“Sob a fúria do Rei, não temi. Sob o frio da Rainha, não fraquejei.”
A tampa do túmulo era tão pesada que nem Garuk a movia sozinho. Foi necessária a ajuda do Guia. No esforço, ouviram algo se partir: era a armadura de gelo perpétuo que envolvia os restos mortais, já enfraquecida pela idade.
O cadáver trajava vestes nobres e a armadura quebrada, que Rector reconheceu como a mesma de sua visão. Sob o corpo, revelava-se outra inscrição:
“A honra do meu senhor é meu escudo. O sangue do meu senhor, minha espada. Minha vida, sua glória.”
O Guia examinou exaustivamente a catacumba em busca de armadilhas, mas nada encontrou. Mesmo assim, notou pequenas estalactites se formando no teto e desconfiou de uma ameaça mais elaborada. Seu maior alerta, contudo, veio quando percebeu que o gelo perpétuo estava derretendo. As paredes pingavam, o teto escorria, e o chão já acumulava poças d’água. Ele advertiu o grupo, que bateu em retirada — mas não sem antes Garuk tomar para si o machado de chama pétrea.
Os aventureiros deixaram a torre a tempo de vê-la ruir de baixo para cima, desmoronando até não restar mais que uma pilha de gelo para futuros exploradores.
Jornada pelas terras geladas
O grupo retomou a jornada rumo a Trisque, descendo novamente as montanhas até alcançar a trilha principal em direção ao sul.
No segundo dia de viagem, avistaram um estranho monólito cinzento, a algumas dezenas de metros da estrada. Curiosos, aproximaram-se. Assim como a Torre de Gelo Quebrada, a estrutura parecia milenar, embora seu propósito fosse incerto. Ainda assim, decidiram investigá-la.
Rector a tocou, tentando sentir vibrações ou visões, mas sem sucesso. Garuk, mais prático, farejou algo enterrado e escavou até encontrar uma caixa selada. Dentro dela havia sementes apodrecidas, incapazes de frutificar naquele solo gélido.
Sob um fundo falso, encontraram ferramentas agrícolas, mais sementes — estas ainda em boas condições — e um saco com cinquenta moedas de ouro. O grupo guardou o que lhe interessava e seguiu viagem.
No quarto dia, cruzaram ruínas de uma cidade antiga. Avançaram com cautela, mas logo perceberam que o local era rota habitual de caravanas comerciais.
No quinto dia, enfrentaram o estouro de uma manada de mamutes. O Guia percebeu que, quilômetros acima, um bando de orcos os havia atacado, provocando a debandada. O perigo era real, pois os animais poderiam atravessar a trilha dos aventureiros. Para evitar o desastre, Rector abriu um portal para a Casa dos Sonhos, enquanto Darion sobrevoou a cena para avaliar a situação. O Guia, teimoso, recusou-se a entrar no refúgio mágico e preferiu permanecer sobre a nuvem criada pelo sonhador.
O grupo cogitou perseguir os orcos na montanha, mas logo concluiu que seria perigoso demais e desviaria sua rota.
O refúgio em Valengard
Dois dias depois, atravessaram um bosque denso e encontraram a estátua de um guerreiro, que marcava a entrada de Valengard, a Guarda do Bosque. Aos pés da estátua, lia-se a inscrição:
“Nosso juramento, uma parede contra o gelo. Nossa lâmina, uma aurora no inverno. Onde o passo do mal treme, a sentinela protege. Por esta terra, sempre em guarda.”
O grupo estava, enfim, diante dos primeiros sinais de civilização desde Odrenvil. Na estrada, cruzaram-se com um pelotão de patrulheiros liderados por um elfo. Eles questionaram os viajantes, mas a conversa breve terminou de forma amistosa, especialmente após Darion abençoá-los em nome de Cambu, o nome mais conhecido de sua divindade fora das terras napóis.
A chegada a Valengard foi acolhedora. O vilarejo mantinha-se de portas abertas, protegido por sólidas paliçadas. Placas os conduziram diretamente à Taverna da Vanguarda, ao sul da vila. A noite já caía, e uma cama era mais que bem-vinda.
Darion pagou cinco moedas de ouro ao taverneiro e garantiu quartos para todos, enquanto providenciava abrigo para os cavalos. Rector seguiu para o mercado, Garuk e Olgaria foram descansar. O Guia, por sua vez, buscou um canto reservado na taverna.
Havia apenas um disponível, mas suficiente para observar o salão. Ao se acomodar, notou, próximo dali, um elfo dourado com uma cicatriz no rosto. Encostada na parede atrás dele, havia uma longa haste coberta por tecido. O olhar atento do Guia, no entanto, identificou parte de um símbolo gravado no objeto: o emblema de Aymon Ghevra, antigo proprietário da arma, e seu mestre enquanto escravo.
Valengard, Terras Selvagens, dia 25 do mês da Paixão do ano de 1502
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