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domingo, 9 de novembro de 2025

(LA) Sessão 17

As Ruínas do Covil

O rastro de Thal

O Guia desceu o alçapão, guiado pelo odor familiar de Thal, seu antigo mentor sekbete. Encontrou uma sala vazia, impregnada por uma sensação mágica que se dissipava lentamente. Após verificar que o ambiente era seguro, fez um sinal para que os companheiros o seguissem.

Os aventureiros exploraram cada canto do piso ladrilhado. Quatro colunas de rocha, cobertas por inscrições élficas danificadas, chamavam atenção.

— “Parece um ritual ou algo do tipo, que foi apagado.” — observou Haftor. Réctor confirmou: os sulcos raspados haviam desfazido um encantamento.

À direita da entrada, Haftor avistou uma capela dedicada a Palier, profanada e repleta de destroços. Antes que pudesse se aproximar, o Guia o chamou. O rastro de Thal seguia por uma passagem estreita, e ele atravessou-a com seu passo umbral.

O corredor levava a uma cela escura. No interior, restos mortais de criaturas humanoides — mas nenhum sekbete.

— “Os ossos foram corroídos, não roídos.” — notou o rastreador, ao ver as paredes recobertas por um líquido verde e ácido. O cheiro de Thal ainda estava presente, mas o rastro se extinguia ali.

Réctor examinou o local e descobriu um ralo largo no centro da cela. Mergulhado em um ácido viscoso, puxou uma corrente presa a um porta-retrato. Dentro, a imagem de uma anã ruiva e guerreira.

O desafio sufocante

Enquanto isso, o restante do grupo explorava outro cômodo, dominado por um grande caldeirão de líquido fervente. Haldur seguia por último, mantendo Demétrius sob vigilância.

Réctor tentou recolher uma amostra do fluido, mas o ácido espirrou e queimou suas mãos. Uma poção de cura reduziu a dor, embora a cicatriz persistisse.

Quando o Guia retornou da investigação, ajudou Garuk a abrir caixas de pedra próximas. Dentro, encontraram ossos e ferramentas antigas — objetos aparentemente descartados.

Uma porta maciça separava o ambiente de outro setor. Coagido por Réctor, Demétrius conseguiu destravá-la. O Guia, ao aproximar-se, sentiu o cheiro úmido de água parada.

Do outro lado havia uma enorme piscina quadrada, de água límpida e profundidade imensa. Para sondar o fundo, o rastreador mergulhou, deixando Olgaria e Réctor à espera.

Logo após o mergulho, a porta se fechou sozinha e dutos começaram a encher o cômodo de água.

— “Não se preocupe.” — disse Réctor, sereno. — “Se a água subir, farei você respirar nela.”

No fundo, o Guia encontrou uma chave e tentou investigar algo escondido sob um ladrilho — apenas um prego enferrujado. Ao perceber o perigo, nadou rapidamente e usou a chave na fechadura. A água cessou e começou a escoar.

O rastreador manteve os companheiros firmes na parede até que a piscina se esvaziasse por completo.

A mensagem final

O fosso seco revelou um corredor que levava a um refeitório em ruínas. O ar cheirava a comida podre; potes e panelas continham restos de gordura e carne em decomposição. Enquanto o Guia examinava uma trilha de sangue, Réctor vasculhava os recipientes e encontrou um pergaminho conservado dentro de um pote. Ao abri-lo, leu em voz alta o relato de um sobrevivente — o escriba Tirum.

A carta do escriba
O chão... o chão não parava. Mas não era como os tremores que o Mestre causava nas abóbadas de cristal. Estes vieram de baixo, um ruído rouco de esmagamento, a própria rocha gritando. Um som antigo, que o Mestre sempre disse que era apenas a floresta se acomodando. Engano. Era a besta, reivindicando seu lar.

O Mestre Veridium já havia partido. Uma semana. Ele nos deixou com Irina e a instrução: 'Se a calamidade vier, protejam a si mesmos e o que não pode ser tocado'. Calamidade veio.

Quando a coluna central do Pátio Principal cedeu, aquela escama verde e úmida irrompeu. Não queria comida. Queria o Recipiente — o objeto que o Mestre usava para nos proteger. Lutamos, nós, os servos, com varas e feitiços fracos. Nossos ossos eram de palha contra sua Fúria.

Irina, minha mestra em táticas, percebeu o erro. O Dradenar só iria parar quando encontrasse o que procurava. Ela me deu tempo. Usando o caldeirão de proteção do Mestre, ela desceu. Lembro-me apenas do brilho, do cheiro de carne queimada e do berro de dor da fera. Ela feriu o bicho, deuses a abençoem.

Eu a encontrei depois. Deitada onde deveria estar, na honra. Fiz o que pude, o que me era permitido. Não consigo subir mais, a entrada superior desabou. Estou aqui, agora, com este relato. O som de passos me alcança. O Mestre falhou: não foi sua magia que causou nossa ruína, mas sua ousadia em construir o nosso refúgio sobre o ninho de outro.

Que este pergaminho chegue a alguém. Que a memória de Irina Vingadora seja lembrada por quem se atreva a olhar para a escuridão. Eles estão vindo. Preciso trancar a porta.

— Tirum, o Escriba. Que o esquecimento me encontre em paz.

O Guia abriu a porta adiante e encontrou o corpo mumificado de um homem. Vestia túnicas verdes e azuis, adornadas com prata, e trazia uma varinha presa ao cinto — um focus mágico, segundo Réctor. Um punhal enferrujado jazia ao seu lado.

A sala seguinte era uma biblioteca de rochas e runas. Haftor tomou um livro de geologia, enquanto Réctor examinava a estante e descobriu um volume fixo — uma alavanca.

O mausoléu de Irina

O Guia, Garuk e Olgaria exploraram a passagem lateral que conduzia a um mausoléu esculpido em mármore branco, adornado com colunas e estátuas. Um tampo ornamentado se destacava no centro, coberto por runas em anão antigo.

Garuk, curioso, olhou para o Guia e disse: — “Na última tumba eu achei um machado. Vamos ver o que tem aqui dentro.”

Os dois sekbetes removeram o tampo com cuidado, revelando os restos mortais de uma anã ruiva, vestindo uma armadura feita de ossos robustos. Um machado enferrujado repousava sobre o peito dela.

Na parte inferior do tampo, um epitáfio em anão profundo dizia:

Irina Vingadora, a guardiã:
sua lealdade foi a única muralha que a fera silvestre não pôde derrubar.
Ela se deitou aqui para que o segredo não tocasse o sol.
Que sua honra seja o castigo de todos os que constroem sobre o ninho de outro.

O Guia identificou a marca no pescoço da anã — o mesmo sinal que Réctor havia visto no retrato retirado do ácido. A conexão estava confirmada: aquela era Irina, a guerreira do relato de Tirum.

O estudo secreto

A alavanca na biblioteca revelou outro caminho, conduzindo a um laboratório secreto. No centro, uma plataforma hexagonal sustentava um pedestal vazio; três torres de energia zumbiam ao redor.

Demétrius foi atingido por um raio ao se aproximar, mas sobreviveu. Réctor enviou Sombra para investigar, e a criatura confirmou tratar-se de um feitiço elétrico. O feiticeiro enfrentou a dor dos choques e dissipou a magia com um contra-feitiço.

Haftor avançou pela passagem lateral para um laboratório ainda maior e encontrou uma esfera de metal negro — quebrada, oca, como se algo tivesse sido arrancado de dentro.

Nas anotações de Veridion Scriptôr, Réctor leu sobre o Corvear, um metal capaz de conter energia titânica, usado na criação de um artefato chamado Recipiente.

No pedestal ao lado, Haftor girou duas esferas douradas e ativou uma projeção na parede: um mapa indicando a Cidadela de Autriz, nas Geleiras.

— “É o mesmo nome que vi na abóbada da torre.” — comentou o Guia.

O rastreador seguiu um novo rastro — uma gosma verde e viscosa espalhada ao redor de uma máquina arcana. Dentro dela repousava uma espada dourada e restos de carne queimada. Ao se aproximar, a substância se agitou e ganhou forma.

O combate era inevitável.

Torre Branca do Sul, Terras Selvagens — Dia 13 do mês do Sangue, ano de 1502.

sexta-feira, 7 de novembro de 2025

(VS) Sessão 13

A Subestação de Krevlan

Discrição perdida

O confronto na ruela de Krevlan chegou ao fim, e Hothspoth aproximou-se do corpo do riforiano sedado.

— “Flynn, me ajuda aqui — a ponta do dardo quebrou no pescoço dele.” — disse o solariano, preocupado.

O companheiro se abaixou e examinou o ferimento. A perfuração era delicada, e Flynn concluiu que não possuía os instrumentos adequados — nem um ambiente seguro — para remover o fragmento. Hothspoth considerou levar o prisioneiro até o carro de Rykk, mas o trajeto pelas ruas quentes e movimentadas chamaria atenção demais.

Com isso, o draconiano alçou voo e transportou o riforiano até o terraço de um prédio próximo, pousando-o junto a uma antena. Lá, Flynn conseguiu remover o fragmento com segurança.

Com o ferimento resolvido, surgiu outro problema: uma câmera de vigilância. Apesar da precariedade de Krevlan, o distrito era coberto por dispositivos de monitoramento. O terraço onde estavam não possuía câmeras governamentais, mas uma lente particular sobre a porta de acesso vigiava o local.

Ed rapidamente invadiu o sistema e descobriu que o servidor das imagens ficava no andar de baixo. Porém, usar a escada principal chamaria atenção dos moradores. Rykk levou Ed até o prédio vizinho para tentar observar pela janela, mas a escuridão impediu qualquer visão clara.

A dupla elaborou um plano: Rykk se aproximaria da janela enquanto Ed entraria para apagar as gravações. Contudo, o plano falhou. No meio do voo, uma pedrada atingiu o draconiano.

— “Ladrão!” — gritou um riforiano do chão.

— “Calma! Eu sou do Ministério — estou estudando uma patologia!” — respondeu Rykk, tentando convencê-lo.

O riforiano, que se apresentou como Kélix, acabou acreditando na encenação, aceitando que Rykk era um agente e Ed, seu guarda-costas. Ele comentou que a casa em questão pertencia a um homem chamado Antrus. Posando de funcionário do Ministério da Saúde, Rykk perguntou sobre doentes com SMD.

— “Sim, conheço uma mulher.” — respondeu o riforiano.

Quando a conversa se esgotou, os dois retornaram ao grupo. Decidiram desistir de invadir o sistema.

— “Vamos jogar a merda no ventilador.” — disse Rykk, resignado, referindo-se às imagens que já haviam sido registradas.

Antes de partirem, o draconiano implantou um software rastreador no comunicador do riforiano desacordado e o deixou amarrado no terraço — com esperança de encontrá-lo ali ao retornar.

A subestação contaminada

As ruas estreitas de Krevlan levavam a um terreno mais limpo e isolado — ali ficava a subestação. As casas vizinhas mantinham os fundos voltados para ela, como se evitassem o contato.

O portão de acesso foi aberto com o cartão que Rykk recebera de sua mãe.

— “Bem-vinda, Sirena.” — anunciou a voz robótica do computador quando o draconiano inseriu a credencial.

Logo ao entrar, Ed sentiu dor no braço. Os solarianos também perceberam algo estranho. Hothspoth teve uma sensação de déjà-vu, enquanto Flynn notou uma interferência em sua conexão com a energia solar.

A fonte do desconforto estava em um transformador defeituoso. Hothspoth sentia a radiação sepulcral emanando dali. Flynn identificou uma válvula solta, expelindo vapor fluorescente. Ignorando o risco, reconectou o duto com suas ferramentas e conteve o vazamento. Gravada no metal do transformador, uma mensagem vandalizada dizia: “Krevlan ferveu. A areia é o trono do traidor.”

Rykk concluiu que aquilo refletia o ressentimento dos riforianos, talvez vítimas de desapropriação quando a subestação foi construída.

Em seguida, usou o cartão na porta da sala de controle.

— “Bem-vinda, Sirena. Confirmação biométrica necessária.” — anunciou o sistema.

Ed foi rápido: conectou seu terminal portátil e burlou a autenticação. Rykk passou o cartão novamente, e sua própria biometria bastou para liberar o acesso.

O interior da sala era amplo e impecável. No centro, uma mesa circular metálica cercada por terminais luminosos. Painéis dispostos em três arcos concêntricos exibiam dados pulsantes, e trilhos metálicos cruzavam o chão polido.

O som constante do magnetismo foi interrompido por um ruído mecânico. Hothspoth avançou e encontrou um robô de serviço: corpo esguio, cabeça monocular e esteiras magnéticas no lugar das pernas.

— “Você não deveria estar aqui.” — alertou a máquina.

Ao ouvir Rykk tentar convencê-lo, respondeu: — “Eu conheço os protocolos.”

O robô iniciou uma transmissão. O grupo bloqueou o sinal, mas o autômato continuou:

— “Estou alertando as autoridades. Deixem a estação ou serão detidos em dez minutos.”

Rykk percebeu o blefe. Hothspoth, irritado, destruiu o robô com um golpe.

Ed iniciou o protocolo de instalação do dispositivo enviado por Grutingrafgnaw, enquanto Flynn e Kassius mantinham vigilância. Flynn percebeu uma trilha de fluido de transporte — usado em androides — levando a um alçapão.

Quando Ed ainda finalizava o processo, Kassius arrombou a passagem e desceu com Flynn. O restante permaneceu operando os terminais. Rykk aproveitou para consultar os registros do sistema e encontrou três nomes de usuário: hierofante_beta_7, orelan_admin e grutingraf. A última identificação o fez gelar — sua mãe tentara acessar o local recentemente.

O calabouço

Assim que Ed terminou a instalação, ele, Hothspoth e Rykk desceram para se reunir a Flynn e Kassius. O guerreiro forçava uma porta no fim do corredor metálico. Ao abri-la, revelou um ambiente iluminado por lâmpadas amarelas, câmeras no teto e duas portas laterais.

Hothspoth foi o primeiro a investigar. Ao abrir a da esquerda, encontrou jaulas contendo restos mortais. Uma delas estava suspensa sobre um maquinário que emitia pulsos de radiação — talvez o núcleo das anomalias. O solariano deixou o local, inquieto, e foi até a sala oposta.

Enquanto isso, Ed, Flynn e Rykk analisavam melhor as celas. Um dos corpos parecia intacto — e logo perceberam que não era cadáver, mas uma androide. A mulher metálica estava viva, consciente, mas paralisada — apenas os olhos se moviam.

Astra

Com paciência, Ed e Rykk compreenderam que ela precisava de fluido de transporte para funcionar e que as jaulas poderiam ser abertas a partir da oficina do outro lado.

Hothspoth e Kassius, na oficina, improvisavam uma réplica do fóssil âmbar. O solariano acreditava que o artefato falso poderia ser entregue ao Ministério, conforme Rykk prometera, mas Flynn discordava: as câmeras os denunciariam assim que saíssem dali.

Ignorando a discussão, Ed abriu a jaula da androide. Rykk encontrou um recipiente com fluido na oficina e o verteu em sua boca. Em poucos instantes, ela se recompôs.

— “Meu nome é Astra.” — disse, em tom suave e metálico.

Explicou que fora capturada enquanto realizava trabalho voluntário em Triaxus. Não sabia o motivo, mas prometeu ajudar o grupo até escaparem juntos.

Os aventureiros decidiram seguir em frente. Batidas metálicas ecoavam no corredor à frente — sinais de que a subestação guardava mais segredos. Eles avançaram...

Triaxus, Cidade de Orelan — Quinta-feira, 22 de Desnus de 325 DL.

domingo, 2 de novembro de 2025

(LA) Sessão 16

A Torre Branca do Sul

A despedida de Trisque

Haftor percebeu, no semblante dos presentes, que ali não era o seu lugar. “Essa cidade quer apodrecer sozinha”, disse, ao não ver atendido seu pedido a Crizagom. Para o anão, Trisque não merecia ser salva. Com isso em mente, levantou-se e deixou a sala do funeral.

“Parta, paladino” — disse Táviga, enquanto ele saía. — “Minha natureza bondosa não me permite condená-lo por não compreender nossos costumes e a cultura do vilarejo.”

Indignado com o que presenciara, Haftor percorreu o caminho de volta à taverna. Ao cruzar com dois guardas que patrulhavam a praça central, tentou alertá-los sobre a influência de Táviga. No entanto, suas palavras repercutiram mais para si mesmo do que para os guardas, que mal compreenderam o significado de seu aviso.

Frida

Enquanto isso, Réctor, acompanhado de Garuk e Olgaria, pediu que Frida lhes mostrasse sua embarcação. Depois do aceite, o trio foi levado ao trapiche para embarcar num bote, mas, após discutirem sobre a capacidade das embarcações, decidiram subir os três — e Frida — na nuvem voadora criada pelo napol.

A tripulação do navio de Frida observava os aventureiros com curiosidade, especialmente o sekbete e o napol. Garuk, por sua vez, mostrava interesse em conhecer “o balestra” que, segundo ouviu, seria forte o bastante para perfurá-lo. Frida mostrou-lhe as duas armas acoplada à proa do navio, para sua leve decepção.

Rector também tinha dúvidas: — “Como esse navio se move no gelo?” — perguntou. A capitã explicou que os magos haviam auxiliado a travessia durante o congelamento das rotas. Como gesto de cortesia, o feiticeiro presenteou a tripulação com algumas de suas poções.

Encerrada a visita, os aventureiros retornaram à taverna e à Casa dos Sonhos para descansar.

Enquanto isso, o Guia observava de longe a visita de seus companheiros. Com seus olhos magicamente aguçados, via o convés do navio de Frida enquanto se ocultava no bosque próximo à praia. Porém, foi alertado por um bater de asas: Lúcius voava sobre ele, sem perceber sua presença.

O meio-corvo entrou no estábulo, seguido furtivamente pelo sekbete. O Guia usou seu Passo Umbral para atravessar as paredes de madeira e surpreender o napol.

Lúcius foi encontrado com um porta-pergaminho nas mãos, sozinho. Questionado sobre o que fazia ali, despistou: — “Só vim ver como estavam os animais. Já terminei.” — disse, antes de bater asas e partir.

O Guia investigou o local e encontrou sinais de escavação — provavelmente onde Lúcius tentava esconder o objeto. Intrigado com o conteúdo que Táviga tentava ocultar, decidiu segui-lo.

Pelo faro, rastreou o napol até a casa grande. Lúcius encontrou-se com Táviga na sala do funeral e conversou em tom sério. Depois, a meio-orca saiu com Dolmuk para um diálogo reservado. O Guia os surpreendeu, mas não conseguiu decifrar o teor da conversa.

A estadia dos aventureiros em Trisque chegava ao fim — e Táviga permanecia impenetrável.

A viagem para o leste

Demétrius despertou sob pressão.

Antes de deixarem Trisque, o Guia queria garantir que o Atravessador não conhecia o conteúdo do pergaminho entregue a Táviga. Segurou o humano pelo colarinho e o lançou ao chão: — “Você vai ser o primeiro que eu vou rasgar em pedacinhos, tá? O primeiro que vai morrer é você!”

Garuk interveio, ameaçando o prisioneiro: — “Se tentar fugir, eu te persigo até o inferno.”

Após as ameaças, o grupo reuniu-se com a caravana de Frida. Ela era composta por quatro guerreiros, quatro magos e uma carroça puxada por dois cavalos — destinada à carga e aos magos. Os seis aventureiros viajariam com Demétrius e seus próprios cavalos.

Enquanto partiam, os aldeões de Trisque cuspiam no chão ao vê-los passar. Os magos, confusos, precisaram ouvir de Haftor que a hostilidade se dirigia apenas ao Atravessador.

Na saída da cidade, Táviga acenou do estaleiro, ostentando um sorriso ambíguo — talvez falso, talvez de triunfo.

A viagem começou pela rota até o vilarejo da Encruzilhada. No caminho, Réctor apresentou sua Casa dos Sonhos aos magos, despertando grande admiração. Tessa, especialmente curiosa, só ficou satisfeita após compreender que a construção existia em Dartel.

Embora o destino dos magos fosse Telas, Réctor os convenceu a desviar para investigar a Torre Branca do Sul, alegando que lá poderiam encontrar mais prismas como os de Garuk.

A caravana entrou na estrada precária que cortava a Floresta Gélida de Gingord. O percurso até a torre levaria dois dias.

Na floresta congelada, encontraram marcas de uma criatura colossal — garras que haviam rasgado a pedra. Garuk e o Guia investigaram e concluíram tratar-se de um predador reptiliano caçando uma presa gigantesca.

“Vejo o rastro de uma coisa muito grande... mas não é só o rastro. Tem marcas de arrasto. Parece que o bicho foi arrastado. O rastro vem da direção da torre.” — analisou o Guia.

Seguindo os rastros por duzentos metros, o grupo chegou a uma clareira. Árvores caídas e copas despedaçadas indicavam o ponto final da caçada — o local onde algo gigantesco alçara voo.

O cheiro de carniça dominava o ar. Sob as copas caídas, Olgaria encontrou o braço decepado de um gigante do gelo — do tamanho de um cavalo.

Réctor recolheu parte da carne em decomposição para compor suas rações, enquanto Garuk aproveitou os ossos para fabricar ferramentas.

Discutindo o que poderia ter causado aquilo, Haftor apostava num dragão; Réctor cogitava uma aedra.

Após a investigação, o Guia limpou a estrada, removendo troncos e abrindo caminho para as carroças.

A Torre Branca do Sul

O Guia acreditava que a floresta era apenas a área de caça do monstro, e que o covil estaria em outro lugar. Mesmo assim, avançaram com cautela.

A caravana alcançou a torre no meio do segundo dia. A estrutura em ruínas erguia-se sobre uma colina. Dorian, o mago, identificou o local como uma obra de geomanipulação antiga.

As portas estavam abertas, e um odor forte de ovo podre — talvez enxofre — tomava o ar. O Guia, com seu olfato aguçado, notou que o cheiro vinha dos andares superiores.

Enquanto o grupo se preparava para explorar, Frida decidiu que ela, seus homens e os magos aguardariam do lado de fora. Silvan pediu que o informassem caso encontrassem algo parecido com os prismas de Garuk ou as pedras de Réctor.

Demétrius insistiu em acompanhá-los. Sacando uma adaga de seu baú, declarou que não estaria indefeso.

Réctor sobrevoou a torre e observou janelas quebradas e corpos parcialmente carbonizados. Alguns exibiam apenas ossos voltados às janelas — como se algo tivesse arrancado-lhes a carne.

No terceiro andar, o Guia encontrou dois ovos de dragão partidos e, sob destroços, utensílios de cozinha. O sekbete logo relacionou os objetos ao gigante morto na floresta: ele provavelmente roubara os ovos e fora caçado pelo dragão.

Com a ajuda dos companheiros, o Guia chegou ao último andar. Haftor avaliou que a estrutura era instável demais para Garuk saltar, então os dois ajudaram a erguer o rastreador com as próprias mãos.

O topo da torre era uma abóbada parcialmente preservada. O vidro remanescente exibia marcações alinhadas ao horizonte — um geolábio ancestral que indicava o Domo de Arminus, em Telas, o vilarejo de Trisque e a Cidadela de Autriz, nas geleiras. As demais inscrições estavam destruídas.

Sob a vegetação da base da torre, Réctor avistou um grande alçapão. Ao abri-lo, revelou uma escadaria descendo para um calabouço escuro.

“Sinto um cheiro muito forte... de bicho, de coisa estragada. Não parece vazio.” — disse o Guia.

Um instante depois, outro aroma lhe chegou — familiar e inconfundível: o cheiro de seu amigo Thal.

Trisque e Floresta Gélida de Gingord, Terras Selvagens — Dias 6 a 13 do mês do Sangue, ano de 1502.

sexta-feira, 31 de outubro de 2025

(VS) Sessão 12

Para Krevlan

A casa de Rykk

O grupo aceitou o plano proposto por Grutingrafgnaw: investigar uma subestação de energia em Krevlan, um distrito de Orelan que emanava anomalias magnetosféricas.

A draconiana descreveu as anomalias como ondas de energia vindas do subsolo, relacionando-as aos picos de violência que vinham ocorrendo ao redor da cidade. Ela repudiava a versão de que a mudança de comportamento era puramente social — acreditava que as anomalias estavam afetando diretamente os habitantes locais.

A estação de Krevlan constava como desativada nos registros oficiais. Segundo Grutin, seria um local adequado e seguro para iniciar a investigação. No entanto, sua localização ficava em uma região carente da cidade, habitada principalmente por riforianos marginalizados — o que não deixava de representar um risco.

Finalmente, o grupo pôde descansar. Hothspoth era o mais exaurido: a radiação sepulcral o atingira com mais intensidade, e ele ansiava por recuperar as forças.

O solariano, porém, amanheceu desconfiado. Lembrando-se da proximidade entre Rykk e Grutenkrag no dia anterior, vasculhou o casaco do emissário em busca de escutas — e encontrou uma!

O pequeno dispositivo, do tamanho de uma unha, estava preso ao casaco que Rykk usara na visita ao MiNI. Hothspoth o alertou, e o draconiano pediu que o robô serviçal colocasse a veste para lavar em uma máquina barulhenta, para eliminar o sinal.

A seguir, os aventureiros reuniram-se com Grutin e contaram sobre a escuta. A draconiana ficou decepcionada — parecia ainda nutrir alguma esperança de que o chefe de seu filho não estivesse envolvido com a Lança de Hierofante.

A confirmação da traição de Grutenkrag fez com que Grutin demonstrasse preocupação com seu marido, o engenheiro aeroespacial Karrogriekgnaw:

“Seu pai está confinado nos laboratórios da Frozen Trove há seis dias. Não é seguro contatá-lo; todos os canais de comunicação são monitorados.”

Rykk se mostrou preocupado, mas logo o grupo precisou se concentrar na missão de Krevlan.

Grutin forneceu um cartão de acesso de nível 2 para o filho. O emissário não reconheceu o nome — Sirina — nem a foto da draconiana no cartão, mas estimou que seria suficiente para entrar na instalação.

Com tudo pronto, o grupo descansou. Rykk apresentou aos companheiros sua sala de jogos, e a tarde transcorreu em paz. A missão começaria às 23 horas.

O despiste

Utilizando o veículo voador de Rykkgnaw, os aventureiros seguiram pela via flutuante de Orelan até Krevlan, um subúrbio industrial abandonado.

A arquitetura local deixava claro que o bairro fora planejado para riforianos — seres de estatura humana, menores que os draconianos. Embora isso os deixasse mais à vontade, o abandono do lugar logo dissipava qualquer sensação de conforto.

A três quarteirões do destino, Rykk precisou se livrar da escuta. Para despistar o ouvinte, ofereceu seu casaco grampeado a um mendigo perneta. O riforiano recusou, insultando-o de “draconiano usurpador”. Mesmo assim, acabou ficando com a veste ao vê-la abandonada em um banco.

A subestação estava próxima. Tubos pressurizados com gases aquecidos denunciavam o preparo para o inverno — apesar de Triaxus viver um verão anormalmente longo.

Como Grutin alertara, uma gangue abordou o grupo.

O confronto com os riforianos

— “Ei, draconiano! Pára aí!” — gritou um riforiano alto e curvado.

— “Por quê?”, respondeu Rykk.

— “Porque eu não gostei da tua cara.”

A hostilidade era evidente, e qualquer tentativa de negociação foi inútil.

Enquanto conversavam, Hothspoth e Flynn perceberam manchas escuras na pele do inimigo — sinais da Síndrome da Marcha Definhante.

— “Você está doente! Podemos ajudar!”, insistiu Flynn.

— “Eu não preciso da tua ajuda”, retrucou o riforiano, armando a arma. “Eu quero que você e sua laia sumam daqui!”

O conflito foi inevitável.

A ruela perigosa

O tiroteio começou com Rykk errando um disparo e quase acertando Flynn. Hothspoth reagiu rápido, atingindo o líder com um dardo tranquilizante. O efeito demorou, mas seria inevitável.

Ed armou seu rifle e buscou cobertura, enquanto Rykk alçou voo para obter vantagem de altura. Flynn e Kassius mantiveram-se na linha de frente. O combate foi intenso: uma bomba de gás ácido foi lançada, e os inimigos usavam canos e sucata como armas improvisadas.

Hothspoth liberou sua Supernova; Flynn respondeu com seu punho solar. Ambos tentavam sobreviver enquanto desviavam de tiros dos próprios aliados.

A gangue foi rapidamente dominada. Kassius matou um deles, e o efeito do veneno de Hothspoth incapacitou o líder. Os dois últimos riforianos tentaram fugir.

— “O Chakar tá morto, cara, vam'bora daqui!” — gritou um deles.

Ed, impassível, disparou contra o fugitivo, acertando-lhe a coxa. O inimigo mancou e prosseguiu, vivo, mas fora de combate.

A batalha terminou. O grupo havia vencido — e capturado um refém.

Triaxus, Cidade de Orelan — Quinta-feira, 22 de Desnus de 325 DL.

domingo, 26 de outubro de 2025

(LA) Sessão 15

O Luto Velado

O Porto

Antes de partir para investigar por conta própria, o Guia alertou o grupo sobre a aproximação de uma frota de navios e os gritos vindos da praça mencionando o “Ancião”. Um navio grande e três pesqueiros haviam atracado. Os pesqueiros traziam o corpo do Ancião, que havia morrido no mar.

O Guia desceu até a praia, movendo-se de forma encoberta. Usou a magia Olhos das Sombras para projetar sua consciência e se deslocar pela sombra do grande navio, em busca de informações.

Enquanto se movia pelas sombras, já na embarcação maior, percebeu uma grande variedade de cheiros — a maioria humana, mas também de elfos ou meio-elfos e até o cheiro de esterco animal.

Ele se dirigiu até a cabine do comandante, que estava vazia. O interior era ostentoso: o piso de madeira polida refletia a luz, e havia estantes com livros. Sobre a mesa principal, repousava um grande tomo (de aproximadamente 50x50 cm, abrindo para quase 1 metro).

O Guia percebeu que o símbolo heráldico gravado no tomo era o mesmo que estava na vela do navio. Não conseguiu identificar sua origem, sabendo apenas que não pertencia a Caridrândia, Blur ou Uno.

Enquanto isso, Rector voou em direção à área de Táviga para observar melhor a movimentação. Foi então que encontrou a comandante Frida — responsável pelo navio maior — e um grupo de magos. Eles se apresentaram como Silvan (líder), Tessa (anotadora e observadora), Dorian e Lila (aprendizes elementalistas). Rector os convidou para a taverna, propondo uma conversa com mais calma.

Enquanto isso, Haftor juntava-se à procissão que levava o corpo do Ancião, sentindo-se obrigado a participar por seu senso de dever. O comandante da milícia, Taros, se aproximou dele e explicou que o Ancião morrera “fazendo o que gostava”.

Taros mencionou ainda que agora seria necessário esperar que Dolmuk, o sucessor imediato, abdicasse conforme havia prometido. Haftor concordou, comprometendo-se a se concentrar apenas na cerimônia.

Os Magos

Enquanto a vila se preparava para o funeral, Garuk e Haldor permaneceram na Casa dos Sonhos com Demétrius, o atravessador, que finalizava o mapa que havia sido ordenado desenhar durante a noite.

Garuk manteve a pressão sobre o homem, lembrando-o em tom ameaçador: “— Só te lembrando, não sou o seu amigo… você tem a oportunidade de fazer com que eu não seja o seu inimigo, só depende de você”.

Após a conclusão do mapa, Garuk o levou até o Guia, que avaliou o trabalho como “muito bem feito”.

Enquanto isso, na taverna de Trisque, o encontro com os Magos do Conhecimento se desenrolava. Eles explicaram que haviam vindo de Runa, cidade do reino de Pórtis, com o objetivo de investigar uma energia diferente captada no Domo pelo Colégio do Conhecimento em Telas.

Os quatro magos

Logo se percebeu que a busca deles e a do grupo pareciam convergir, pois aquela energia poderia estar ligada à lenda da Aurora Gelada.

Os magos mostraram grande interesse pelo Prisma que o grupo carregava: “— É exatamente por coisas como essas que estamos procurando!”, disse Silvan.

Rector permitiu que a elfa (Lila) examinasse a esfera, mas quando Silvan tentou tocar o Prisma de Garuk, este o puxou rapidamente, alertando: “— É perigoso encostar os dois”. Silvan retrucou, dizendo que não tentaria algo “tão estúpido”.

O grupo passou rapidamente a discutir problemas internos. O Guia estava preocupado com o tempo que Haftor e Réctor pretendiam ficar em Trisque. No entanto, o tom elevado da conversa revelou o contraste entre o grupo e os magos. Falando em élfico, Silvan e seus aprendizes questionaram se o grupo estava “brigando entre si” ou se aquele era o “modo selvagem deles de agir”.

O Guia, que entendeu a provocação, respondeu em élfico, batendo na mesa: “— Você sabe que o nome disso aqui é Terras Selvagens, né?”.

Surpresos ao descobrir que Rector e o Guia falavam élfico, os magos insinuaram se eles tinham aprendido o idioma com os “infames elfos sombrios”. O sekbete respondeu friamente: “— É difícil aprender enquanto tá tomando chicotadas”, revelando em tom amargo um fragmento de seu passado em Caridrândia.

O diálogo continuou com Rector mostrando algumas de suas poções. Os magos demonstraram curiosidade, especialmente Tessa, que anotava detalhes. O feiticeiro explicou que sua magia vinha da natureza, ao que Silvan respondeu com arrogância: “— A diferença entre nós é que eu posso compartilhar meu conhecimento”.

A tensão se manteve no ar até que os magos encerraram a conversa de modo protocolar, demonstrando polidez. O acordo, que havia sido desenhado ainda no porto, foi fechado na mesa da taverna: o grupo escoltaria os magos e sua comitiva até Telas. Embora eles confiassem em Frida e nos guerreiros que a acompanhavam, também diziam que precisariam de guias para levá-los pelos caminhos mais seguros até a cidade junto ao Domo.

Os aventureiros não negociaram um pagamento. No entanto, Rector perguntou se ele poderia ter acesso ao colégio do conhecimento quando chegasse lá. Silvan não foi conclusivo, alegando que seria necessária uma autorização expressa do reitor, mas disse ser possível.

O Funeral

Garuk, o Guia e Olgaria retornaram para a casa dos sonhos de Rector antecipadamente. O rastreador acordou o Atravessador para perguntar-lhe se mais alguém além de Guzur estava atrás dele, e também para saber se era possível que o orco estivesse espreitando nas proximidades.

Demétrius foi enfático em dizer que não tinha mais inimigos, e que a última notícia que havia escutado sobre Guzur, há três meses, afirmava que ele estava muito distante para oeste.

Da praia, o corpo do ancião foi conduzido até a casa grande, onde os aldeões se reuniram para falar sobre a vida dele e sobre a vida do próximo líder do vilarejo. Haftor acompanhava tudo de perto, em silêncio.

Algumas horas depois do início, a mestre da cerimônia convocou Dolmuk, o sucessor natural do antigo ancião. Com voz trêmula e desviando o olhar de Haftor, o velho humano iniciou seu discurso sem dar sinais de que desistiria da função.

Haftor teve paciência, embora lançasse olhares ameaçadores de desaprovação para Dolmuk. O sucessor sentia-se pressionado, mesmo sem o martelo do paladino se erguer contra ele.

“— Eu não sou digno da posição que vocês esperam que eu assuma... eu abdico do meu dever para Trisque.” — anunciou Dolmuk, depois de muito tempo bajulando a antiga memória do ancião.

Haftor o encontrou na sala ao lado da cerimônia. Dolmuk sentia-se um covarde, mas o paladino tentou animá-lo, dizendo que ele fizera a coisa certa. Ambos retornaram para a sala e assistiram à mestre de cerimônias, surpresa, retomar o controle e anunciar que a próxima da fila seria Lismira.

A nova sucessora já estava preparada para seu discurso, pois Haftor a havia alertado na noite anterior. Assim, ela começou a discursar e falar sobre sua história.

Táviga e seu bando chegaram durante o discurso de Lismira. Enquanto a meio-orca sentou-se na frente, Krell e Zira foram para trás, enquanto o restante ficou na sala da escada.

A sucessora do ancião tinha uma boa retórica, mas ela foi suplantada pela habilidade de Táviga. A meio-orca encontrou uma brecha no discurso para se intrometer. Suas palavras eram cativantes, narrando feitos marcantes do ancião e relacionando a história dele com a dela.

Haftor prestava atenção com afinco. Porém, demorou a notar que o discurso da meio-orca havia mudado de veneração ao falecido para auto-promoção. Quando abriu os olhos para isso, interveio:

“— Calada!” — bradou Haftor, invocando um milagre de Crizagom. No entanto, o deus da justiça não interveio por ele. Táviga sorriu e aproveitou-se da oportunidade para desmoralizar o anão: “— Pelo jeito o paladino ainda não entendeu os costumes e a cultura de nosso vilarejo. Eu estou aqui honrando o ancião e o senhor interrompe manchando a sua reputação.”

Haftor viu os olhares dos aldeões virarem-se para ele em desaprovação. A meio-orca justificava em cada passo a razão da influência que possuía em Trisque, e não seria fácil para Haftor desfazê-la.

Trisque, Terras Selvagens, dia 6 do mês do Sangue do ano de 1502

 


 

sexta-feira, 24 de outubro de 2025

(VS) Sessão 11

Protocolo Delta


Abordados na órbita

Após deixarem a estação espacial de Pleo-3, os aventureiros traçaram rota para o planeta Triaxus. Rykk estabeleceu o porto de Orelan como destino, por ser sua cidade natal e uma base importante da Frozen Trove.

A chegada à órbita de Triaxus foi tensa. Uma frota de aeronaves se aproximou de Berenice e ordenou que a tripulação se apresentasse:

— Status de voo: análise de assinatura completada. Seus registros estão sendo verificados contra a base de dados de segurança corporativa e governamental. Mantenham-se em sua trajetória atual. Qualquer desvio do vetor de aproximação será interpretado como hostilidade imediata.

Após Rykkgnaw fazer uma apresentação formal de seu título e tentar disfarçar seu verdadeiro objetivo, o comandante da frota autorizou a aproximação e a aterrissagem:

— Emissário draconiano Rykkgnaw reconhecido. Credenciais confirmadas. Emissário, você está sob um Protocolo de Boas-Vindas de Classe Delta. Solicitamos que ative o canal criptografado pessoal da Berenice e transfira o comando de aproximação ao nosso controle remoto de navegação.

Visão da cidade de Orelan

Rykk não entendeu a razão da Classe Delta, pois sabia que se tratava de um protocolo de segurança fora do comum. Ainda assim, seguiu as instruções. O comandante da frota ordenou que a tripulação desativasse todos os sistemas de armas e escudos para a atracagem.


O hangar

O grupo foi designado a um grande hangar no porto de Orelan, localizado a algumas dezenas de quilômetros da sede governamental onde Rykk trabalhava — local que ele pretendia visitar imediatamente.

Berenice desativou seus sistemas e transferiu a interface para os comunicadores da tripulação. No solo, eles perceberam que o porto era operado por uma grande diversidade de raças, embora os draconianos predominassem.

Yurok, o engenheiro

Uma comitiva de boas-vindas veio até a nave assim que a escotilha se abriu. Ela era composta por riforianos, drones e um draconiano engenheiro-chefe: Yurok, um meio-dragão de pescoço longo e grandes asas.

Antes da aterrissagem, Rykk havia contatado seu chefe, Grutenkrag, para pedir autorização de desembarque. O ministro ficou surpreso com o pedido, mas prometeu fazer o possível. Assim, quando Yurok iniciou as varreduras em Berenice, Rykk teve autoridade para ordená-lo a parar. A mensagem de autorização ainda não havia chegado, e o clima entre o emissário e o engenheiro ficou tenso. Por fim, a ligação do comando do hangar chegou, e Yurok deixou a nave frustrado.

Apesar de terem afastado a vigilância direta, o grupo percebeu que não conseguiria manter discrição por muito tempo. Câmeras cobriam todos os ângulos, e os operários tentavam rastrear qualquer sinal vindo da nave. Hothspoth notou que os drones — quase todos fabricados pela Frozen Trove — emitiam um sinal em frequência específica, capaz de detectar o fóssil âmbar caso estivessem próximos. Por sorte, as travas de Berenice eram seguras o suficiente para impedir invasões, ainda mais por se tratar da nave de um funcionário público draconiano.


O chefe

O grupo seguiu em transporte terrestre até a sede do Ministério das Negociações Interplanetárias (MiNI), local de trabalho de Rykk. Exceto pelo draconiano, os aventureiros sentiram-se minúsculos naquele ambiente. Embora Triaxus abrigasse diversas raças humanoides, Orelan se erguia em território dracônico — nada ali era feito para seres menores. Degraus de meio metro, maçanetas a quase dois metros do chão e cadeiras de encosto alto davam uma constante sensação de deslocamento.

O prédio do MiNI era colossal. Apesar de ter apenas 19 andares, ultrapassava facilmente os 100 metros de altura — grande até mesmo para os padrões draconianos.

Rykk tentou passar direto pela recepção, mas a secretária exigiu que todos, exceto o próprio emissário, realizassem um cadastro básico. Assim, cada aventureiro precisou registrar nome e local de origem antes de seguir adiante.

No elevador, o grupo encontrou Grishar, um cientista draconiano conhecido de Rykk. Ele fez perguntas desconfortáveis sobre as viagens do emissário antes de desembarcar em um andar inferior.

o chefe

No 17º andar, Rykk deixou o grupo em sua sala e seguiu sozinho até o fim do corredor, onde ficava o escritório de Grutenkrag. O caminho era guiado por um tapete azul que levava a uma imensa porta manual.

— Entre — disse o ministro, que já o aguardava.

Rykk relatou tudo o que havia descoberto fora de Triaxus, mas a reação de seu chefe não foi a esperada. Grutenkrag demonstrou preocupação com o fóssil âmbar, parecendo desconfortável com o fato de o objeto ter sido trazido ao planeta. Segundo ele, o protocolo de Classe Delta se devia à presença do sinal anômalo detectado em Berenice.

O chefe sugeriu que o fóssil fosse levado ao subsolo do MiNI para estudo. A justificativa parecia lógica — mas o tom de Grutenkrag despertou suspeita em Rykk. O emissário fingiu concordar, prometendo retornar com o fóssil, mas sabia que algo estava errado.

O grupo deixou o Ministério imediatamente. Rykk chamou os companheiros até sua sala e partiu em um veículo terrestre rumo à casa de sua mãe.


A cientista

O lar de Rykk em Triaxus era uma mansão antiga, propriedade de uma família com laços fortes tanto com o governo quanto com a Frozen Trove.

a mãe

Recebidos por um robô doméstico, os aventureiros foram conduzidos ao escritório da mãe de Rykk, Grutingrafgnaw, uma cientista especializada em magnetosferas.

A draconiana os ouviu atentamente e, por mais improvável que fosse a história, pareceu acreditar. Mais do que isso, ela também possuía informações relevantes.

Grutin confirmou rumores que o grupo já ouvira durante a viagem: Triaxus estava regredindo. Porém, sua explicação ia além das causas sociais. Ela descreveu anomalias magnetosféricas ocorrendo nos arredores de Orelan:

— Ondas de energia errática estão vindo do subsolo e causando uma “febre” social: picos de agressividade, falhas em datapads e, sim, o aumento da violência. Não é só abandono, Rykk — é algo ativo.

Embora preocupada com a segurança do filho, Grutingrafgnaw pediu ao grupo que investigasse discretamente uma das zonas afetadas — uma Subestação de Energia Desativada em Krevlan, um subúrbio industrial de Orelan. Segundo ela, o local não deveria apresentar grandes riscos, mas exigiria cautela.

O grupo aceitou a missão e começou a preparar os próximos passos.


Triaxus, Cidade de Orelan — Quarta-feira, 21 de Desnus de 325 DL.

domingo, 19 de outubro de 2025

(LA) Sessão 14

O Atravessador

Mudança de custódia

Réctor e Táviga selaram seu acordo com um aperto de mãos. Haftor estava ao lado do napol, validando a estratégia da meio-orca para livrar-se de seu antigo aliado.

Os aventureiros foram até o estábulo onde Demétrius estava mantido, e a meio-orca autorizou Krel e Zira a libertá-lo. A custódia passaria para o paladino, e a líder do Estaleiro Caedor precisava anunciar isso ao povo de Trisque.

O grupo retornou à praça escoltando o prisioneiro. Assim que chegaram, Táviga anunciou, com sua voz aguda e poderosa, que Demétrius estava sendo entregue a Haftor, o paladino de Crizagom, que o levaria à justiça em Blur, o reino dos anões.

A população de Trisque formou uma fila para insultar o traidor Demétrius, enquanto Haftor permanecia atrás dele, assistindo em silêncio.

Depois da cena na praça, o grupo resolveu conduzir Demétrius até a Casa dos Sonhos de Réctor, onde teria tempo e privacidade para discutir assuntos delicados.

As informações de Demétrius

A impaciência do Guia durante a condução do prisioneiro perturbava Réctor, que sabia que Lúcius — o napol aliado de Táviga — estaria alerta, observando tudo. Ainda assim, o Guia iniciou seu interrogatório pelo caminho, questionando se Demétrius conhecia Thal.

Embora o Atravessador negasse a maioria das informações, nem tudo foi em vão. Ao ver o pedaço de armadura que o Guia carregava, já às portas da Casa dos Sonhos, Demétrius lembrou-se de que Thal estivera lá cerca de um ano antes. Durante a visita, o sekbete mencionara Goragar, o sekbete de escamas vermelhas.

Demétrius revelou ao Guia que Thal buscava alguém que sabia sobre a “Voz no Gelo”, o lugar para onde, supostamente, os orcos rumavam. Além disso, o capitão-do-mato de Caridrândia queria encontrar um anão chamado Horgrundis, um minerador.

Sobre a Voz no Gelo, o sekbete ouviu falar de um profeta do norte, mas foi orientado a procurar mais pistas na Torre Branca do Sul, um lugar de mortos.

Sobre o anão, Demétrius contou que Horgrundis fizera fortuna explorando rochas da erupção do Krokanon, e que sua última localização conhecida era Vir-Máliz, uma fortaleza nas montanhas. Ele destacou que o anão não tinha boa reputação entre seus pares em Blur.

O interrogatório de Demétrius pelo resto do grupo continuou dentro da Casa dos Sonhos, onde o Guia se recusou a entrar.

Réctor tentou uma abordagem mais amistosa. O humano disse que muitas de suas informações estavam registradas em seu diário, escondido no estaleiro. Se o grupo o trouxesse, ele poderia revelar muito mais.

Como o Estaleiro Caedor era domínio de Táviga, o grupo preferiu manter discrição. Assim, dividiram-se em três frentes:

  • O Guia e Olgaria procurariam pelos registros de Demétrius no estaleiro;
  • Haftor e Haldur visitariam a residência de Lismira para alertá-la sobre a sucessão do ancião;
  • Réctor e Garuk permaneceriam na Casa dos Sonhos, vigiando o Atravessador.

A busca no estaleiro

A noite fria e escura de Trisque ocultou a saída do Guia e de Olgaria da estalagem de Ozael. Analisando os arredores da Casa dos Sonhos, o Guia percebeu sinais de que Lúcius estivera ali. Ele alertou seus companheiros antes de prosseguir.

A praça central do vilarejo era iluminada por lanternas de óleo e patrulhada por uma dupla de guardas. Os aventureiros evitaram ser vistos com facilidade e seguiram até o Estaleiro Caedor.

O pequeno porto de Trisque era composto pelo estaleiro, um trapiche e uma área de armazéns. A iluminação era precária, especialmente porque nevava fraco.

No corredor dos armazéns, atrás das docas, a dupla percebeu que um meio-orco permanecia vigilante. O objetivo deles estava no fim da rua, próximo ao limite do vilarejo.

Meio-orco no estaleiro

O vigia — um brutamontes de aparência mais orca do que humana — os viu e se aproximou.

— O que estão procurando? Estrangeiros não são bem-vindos aqui a esta hora! — alertou.

Olgaria se adiantou e respondeu: — Viemos buscar algumas roupas do Atravessador, que partirá conosco amanhã.

O meio-orco manteve a desconfiança, dizendo que Táviga precisaria autorizar. Para disfarçar, Olgaria sugeriu que ele os acompanhasse, mas garantiu que seria rápido. Com visível desânimo, o vigia acabou permitindo que prosseguissem sozinhos.

O local indicado por Demétrius ficava à vista do meio-orco, embora a penumbra dificultasse entender o que faziam. O Guia removeu algumas caixas empilhadas e encontrou um alçapão escondido sob elas.

Sem a chave, Olgaria forçou a trava, conseguindo abri-la à custa de um barulho que alertou o vigia. Dentro, encontraram o grande tomo de folhas de pergaminho — o livro que Demétrius mencionara.

Para despistar o vigia, o Guia usou seu passo umbral para esconder o tomo longe da vista. Quando o meio-orco chegou, Olgaria já arrumava as caixas, resmungando: — As orientações foram ruins.

Com o objeto em mãos, os aventureiros usaram novamente o passo umbral e retornaram à estalagem em segurança.

A nova liderança de Trisque

Haftor e Haldur foram atendidos por uma mulher jovem na casa de Lismira — a filha da terceira anciã. Ela levou os três filhos para fora, deixando os anões conversarem em particular com a futura líder do vilarejo.

Lismira

Lismira ficou surpresa ao saber que Dolmuk, o segundo ancião, abdicaria de sua posição. Depois do espanto, mostrou-se confiante em assumir o posto, especialmente após as palavras encorajadoras de Haftor, sob a égide de Crizagom.

O paladino estava particularmente preocupado com a ascensão de Táviga. Desconfiava da meio-orca e acreditava que Lismira seria forte o suficiente para mantê-la sob controle.

A humana admitiu que não confiava plenamente em Táviga. Apesar de alegar ignorância sobre seus negócios escusos — segredo que os anões preferiram manter —, chamou-a de falsa.

Haftor declarou que ele, seu irmão e o restante do grupo tinham interesse em manter o vilarejo seguro e livre da influência corrupta da meio-orca, e por isso apoiariam a sucessão de Lismira. No entanto, a revelação de que o ritual de troca de liderança levaria cinco dias o deixou apreensivo.

— Agora você corre perigo — alertou o paladino antes de se despedir.

Lismira, porém, manteve a calma. Disse que possuía pessoas de confiança ao seu redor — o genro, que estava no mar em busca do ancião, e o comandante da milícia, Taros, que havia acompanhado Haftor e o ancião quando confrontaram Dolmuk.

A pressão sobre Demétrius

A abordagem de Réctor com Demétrius foi amistosa. No entanto, o humano mostrou-se excessivamente à vontade na Casa dos Sonhos, o que acabou irritando Garuk.

Quando começaram a questioná-lo sobre Guzur e o Atravessador tentou enrolar, o sekbete perdeu a paciência.

Garuk saltou de sua cadeira, agarrou Demétrius pelo colarinho, o atirou no chão e rugiu sobre ele, com baba escorrendo pelos dentes:

— Eu já tô perdendo a paciência com você! Tá achando que somos amigos? Eu falei que ia poupar sua vida! Nós estamos aqui fazendo de tudo pra conseguir informação e manter você vivo. E você continua falando complicado, escondendo o que sabe. Quer morrer mesmo? Eu vou matar você! Meus companheiros vão ficar tristes, mas pelo menos você não vai me dar mais problema!

A brutalidade funcionou. O Atravessador cedeu.

Demétrius confessou que falsificava documentos sobre orcos vindos de diversas regiões e, nas últimas semanas, havia feito isso para a comitiva que o grupo enfrentou perto de Trisque e para o trio de cavaleiros cruzado na estrada.

Sobre Guzur, admitiu ter negociado com o elfo sombrio Taloriel para entregar a localização da família do orco. Supostamente, os elfos queriam apenas realocá-los, mas, na verdade, pretendiam chantagear Guzur, usando sua família como isca.

Guzur retaliou, resgatou sua família, matou o elfo e perseguiu Demétrius, que escapou por pouco e se refugiou em Trisque sob a proteção de Táviga.

As ordens, porém, vinham de Alcormi Minolis, uma elfa sombria poderosa em Caridrândia — nome desconhecido para o Guia e Réctor.

Quando o grupo retornou com os pertences de Demétrius, foram cautelosos. Temiam que algo ali pudesse ser usado de forma ardilosa.

Entre as posses do humano havia roupas, moedas, joias e três anéis mágicos: um anel de invisibilidade, um anel de transformação e um anel de teletransporte.

O tomo tinha incontáveis folhas escritas com caligrafia elegante em alfabeto élfico, mas o idioma era estranho para Rector. Com auxílio de uma de suas poções, o feiticeiro percebeu que o texto, embora escrito em élfico, estava no idioma Pedra, a língua dos anões.

O napol analisou o livro brevemente e percebeu que continha uma extensa lista de contatos de Demétrius, rotas comerciais e outras informações pessoais.

Quando perguntado sobre alguém capaz de confeccionar uma armadura de um esqueleto de Escaravelho, Demétrius mencionou o nome do armeiro Gorbaga, dos Mangues. Apesar de nunca tê-lo encontrado, disse que poderia desenhar um mapa para orientá-los até lá.

Por fim, ao ser questionado sobre a Voz no Gelo, revelou que ainda aguardava um contato em Trisque dentro de duas semanas — alguém vindo de Telas. O grupo decidiu que poderia encontrá-lo no caminho até lá, já que apenas uma estrada ligava as duas cidades.

O interrogatório chegou ao fim, e todos enfim puderam descansar.

Enquanto isso, o Guia, de vigia no quarto da estalagem próxima à Casa dos Sonhos, percebeu que Lúcius, o napol, observava o local oculto na copa escura de uma árvore próxima.

Usando seus poderes sombrios, o sekbete vermelho se transportou até ele.

— Você tem certeza de que pode confiar na sua patroa? — indagou o Guia.

— Tenho, plena certeza. E você? Tem certeza de que pode confiar em seus companheiros? — retrucou o corvo.

O Guia tentava sem sucesso plantar a dúvida na mente de Lúcius, mas o napol parecia convicto de sua lealdade.

— Nós sabemos os riscos do nosso serviço — afirmou ele, quando o sekbete mencionou o fato de o Atravessador ter sido descartado por Táviga.

Lúcius não permaneceu muito tempo na árvore. Depois da conversa com o Guia, e percebendo que havia sido detectado, bateu as asas e desapareceu na noite.

Ao fim da madrugada, o Guia ouviu o som distante de uma trombeta.

Ao abrir a janela, viu quatro embarcações aproximando-se da costa — uma delas, maior do que as outras.

De um pequeno barco de pesca, um homem gritava para todos ouvirem:

— O Ancião!!!

Trisque, Terras Selvagens, dia 5 do mês do Sangue do ano de 1502.