Os Cientistas
A fuga turbulenta
O atrito da atmosfera de Triaxus fazia tremer os painéis e a nave como um todo. O espaço estava ao alcance, mas os inimigos seguiam ao encalço.
— Seis aeronaves em nossa perseguição — anunciou a IA.
Sob o comando de Rykkgnaw, Edric assumiu o manche e iniciou manobras evasivas. — Precisamos despistá-los o mais rápido possível! — gritou o piloto. Hothspoth, no comando da artilharia, interceptou um torpedo com um disparo preciso antes do impacto.
A tripulação organizou-se rapidamente para o confronto: Flynn assumiu a manutenção, Hothspoth e Kassius ficaram nas armas, Edric manteve o controle da nave e Rykk, na cadeira do capitão, coordenava a tática da equipe. Os sistemas de Berenice foram elevados ao limite enquanto Ed forçava a partida dos motores de deriva. A intenção era ganhar tempo suficiente para escapar.
— A deriva vai nos levar para onde? — indagou Rykk.
— Depois a gente vê isso… para nossos maiores sonhos — divagou Ed.
O confronto se acirrava. Os caças cercaram Berenice enquanto os motores ainda aqueciam. Flynn energizava os escudos com perícia, impedindo que os disparos laser penetrassem a blindagem. — Faz essa porra funcionar! — gritou Rykk. Edric concentrou-se na pilotagem e conseguiu forçar os motores a atingirem a carga necessária. Instantes depois, Berenice desapareceu do espaço, deixando os caças de Triaxus sem alvo.
Os cientistas
A viagem pelo plano da deriva levaria dois dias. O destino ainda estava sendo calculado por Berenice, mas o grupo tinha outras preocupações. Uma delas, ao menos para Ed, era descobrir se o cientista mais velho mantinha algum tipo de relacionamento amoroso com sua jovem pupila. O piloto montou um quadro investigativo improvisado e registrou os votos de cada membro da tripulação. Para seu deleite, quase todos apostaram no “sim”, com exceção de Flynn e Astra.
Quando Vexia, a cientista humana, despertou na ala médica sob os cuidados da androide, seu humor não era dos melhores. — Sou uma prisioneira? Por que estou aqui? — perguntou, apreensiva.
Explorando os registros pessoais da mulher e fazendo uso de seu carisma habitual, Rykk a convenceu de que ela e seu mentor, Dr. Allen, estavam apenas de passagem e seriam conduzidos de volta a Absalom “assim que fosse conveniente”. Ofereceu-lhe um quarto em vez de uma cela e começou a fazer perguntas sobre a pesquisa que desenvolviam.
Rykk induziu Vexia a acreditar que Berenice estava em uma missão oficial. Com a guarda baixa, ela revelou que Dr. Allen buscava uma cura, ou ao menos uma compreensão mais profunda, da radiação sepulcral por meio do Reator de Fluxo. Estuávamos fluxos de antienergia estabilizada, explicou ela. Os termos técnicos eram densos demais para os aventureiros, e Vexia não parecia ter muitas informações sobre os patrocinadores da pesquisa.
O Dr. Allen acordou no dia seguinte. — Imagino que queiram uma recompensa por mim… — disse ao ver Hothspoth e Rykk entrarem na ala médica. — Fui sequestrado para um resgate?
Hothspoth tentou uma abordagem direta:
— O senhor é da Lança de Hierofante?
— Eles patrocinavam — respondeu Allen, ajustando os óculos como se isso não
fosse segredo algum.
Rykk interveio imediatamente. Revelou sua conexão com a MiNI e fingiu ainda estar subordinado a Grutenkrag, fazendo o cientista acreditar que estava entre aliados. A conversa foi conduzida até o “espécime” mantido na sala de contenção, sem mencionar o nome de Irlanda. Allen explicou que aquilo era algo particular do patrocinador e mencionou uma mulher vítima de um "incidente terrível".
Enquanto Rykk se aprofundava na misteriosa pesquisa, Ed e os outros divertiam-se investigando a vida privada dos cientistas. O piloto ansiava por um romance sórdido, mas Berenice pôs fim à especulação informando que todos os indícios apontavam que a senhoria Vexia possuía interesse romântico em outra mulher.
K375
A viagem pela deriva durou o suficiente para Pip realizar a manutenção da nave e Astra recuperar os tripulantes. Allen e Vexia estavam mais à vontade, alojados em quartos de tripulação.
— Destino identificado — anunciou Berenice. — Vastidão. Sistema K375, não cartografado. Sistema binário, com apenas um planeta em zona habitável: K375-Prime.
A nave saiu da deriva a algumas horas de percurso do planeta. Sua atmosfera não era nada convidativa: nuvens de tempestade cobriam quase toda a superfície visível. Havia apenas um continente, exposição intensa à radiação e gravidade quatro vezes maior que a de Absalom. Um mundo rochoso e pequeno, com cerca de um quinto do raio padrão.
— Trace rota de volta para Absalom — ordenou Rykk.
— Detecto sinais de vida adaptada neste planeta — respondeu Berenice. — Além
disso, há fortes emissões de radiação sepulcral a partir de uma coordenada na
superfície. A emissão coincide com a presença de um fóssil do relicário.
As informações fizeram o grupo reconsiderar. O sistema estava condenado: os cálculos indicavam que K375-Prime seria engolido pelas estrelas em quatrocentos e vinte anos. Ed acomodou-se na cadeira do piloto. A atmosfera hostil colocaria à prova toda a sua habilidade.
Dos Mundos do Pacto para a Vastidão — Quinta-feira a Sábado, 22 a 24 de Desnus de 325 DL



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