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domingo, 21 de dezembro de 2025

(LA) Sessão 23

Sessão 23 - Tariq

O Ponto de Controle

O nome de Silvan no registro de acesso para Telas não foi suficiente para acalmar o velho guarda Loric. Com um tom arrogante, ele exigiu saber a origem e o destino dos viajantes, deixando claro sua desconfiança para com forasteiros — especialmente considerando a aparência exótica e o equipamento pesado do grupo.

— Revistem a carga — ordenou o vigilante.

Garuk, com sua postura típica, colocou-se entre um guarda e a carroça. O Guia rosnou, demonstrando sua insatisfação primitiva. Os ânimos se acirraram e mãos já buscavam os punhos das armas quando, dos portões do entreposto, um cavaleiro surgiu a passos largos.

Vestindo uma armadura brilhante e uma tabarda vermelha adornada com um leão dourado, o humano aproximou-se com a imponência de quem detinha autoridade natural. Garuk tentou ir até ele, mas foi barrado por um guarda. Mesmo assim, interpelou em voz alta:

— Você que é o guerreiro líder dessa tribo?

O guerreiro respondeu de forma direta e calma:

— Sou eu, sim. — E, observando a confusão na entrada, elevou o tom para questionar seus companheiros de vigília: — Loric, o que está acontecendo aí?

O guarda alegou estar realizando uma “inspeção de segurança”, uma mera operação de rotina. O cavaleiro tomou o pergaminho com as credenciais de Silvan e o analisou com atenção.

— Loric... deixe de ser um obstáculo para a coroa — disse ele, tirando os olhos do documento. — Se estes homens causarem problemas, a responsabilidade é minha. Eu coloco meu selo na passagem deles. Agora, saia da frente.

A postura do cavaleiro pôs fim ao conflito, embora Loric não tenha escondido sua insatisfação com o desfecho. Como demonstração de respeito à força, Garuk desafiou o recém-chegado para um duelo.

— Se eu ganhar, passamos — propôs o sekbete.

O humano sorriu brevemente e recusou. Em seguida, dirigiu-se a Silvan:

— Lamento pelo ocorrido, senhor Silvan. Vejo que traz uma comitiva grande e estranha. — Voltando-se para Réctor, apresentou-se: — Eu sou Tariq, de Verrogar.

O rancor quanto ao guarda problemático permaneceu entre o grupo, mas Tariq justificou:

— Loric é um servo muito antigo. Prestou serviços durante muito tempo, mas tem seus... problemas. — O cavaleiro acomodou a capa e recompôs a postura antes de continuar. — Mais uma vez, peço desculpas pela forma ríspida com que ele tratou seus... contratados.

Notava-se que Tariq buscava palavras para uma interação social com a qual claramente não estava habituado. Réctor e os outros ainda reclamaram de Loric por alguns instantes; o cavaleiro foi cordial e compreensivo, mas deu o assunto por encerrado.

— Bem, senhor Silvan, garanti a passagem de vocês. Agora, o senhor me deve uma conversa. Jantem comigo, por favor. Sua comitiva toda está convidada.

O convite agradou aos aventureiros, de Frida a Garuk. O sol se punha e eles não teriam muito tempo de estrada útil. Assim, caminharam com Tariq para dentro do entreposto militar.

O Jantar

O entreposto era movimentado. Mesmo àquela hora, havia muitas pessoas trabalhando na rua, carregando objetos, ferramentas e alimentos — a maioria, humanos do sexo masculino.

O grupo foi conduzido até uma casa, aguardando breves instantes enquanto Tariq entrava para buscar uma algibeira. Depois, seguiram para a taverna, uma construção de madeira rústica, porém ampla e aconchegante.

Tariq reservou duas mesas grandes. Sentou-se com Silvan e os aventureiros, enquanto Frida, seus guardas, Demétrius e os três pupilos acomodaram-se na mesa ao lado.

— É uma surpresa ver sekbetes contratados por um mago da coroa — comentou Tariq, gesticulando para o taverneiro trazer comida e bebida. — Esse povo geralmente trabalha para os sombrios. Foi tudo que escutei.

— A maioria presta serviço, mas na verdade trocam favores — explicou o napol.

— Conheço pouco dos elfos sombrios e muito de sua fama. Prefiro manter distância.

A conversa fluiu animada. Tariq desejava saber sobre as aventuras do grupo e a visão deles sobre as Terras Selvagens. Silvan explicou que foram contratados justamente pelo conhecimento da região, com a missão de chegar a Telas, mas que os desvios quase os fizeram ser devorados por um dragão na Floresta Gélida.

— Um dragão atormentando a floresta? — perguntou o cavaleiro, curioso. — Vocês mataram a criatura?

— O dragão nós evitamos — revelou Garuk.

Réctor, com teatralidade, colocou dentes e chifres do lagarto de gelo sobre a mesa.

— Nós matamos um lagarto de gelo.

— Parece que tem sido uma aventura e tanto até Telas, senhor Silvan — surpreendeu-se Tariq, observando os troféus.

Haftor e Tariq conversaram sobre a fé em Crizagom nas Terras Selvagens e em Blur. O cavaleiro revelou vir de Verrogar, sob ordens do Rei Éperus I. Criado sob a fé de Selimon, o deus da paz, Tariq estava nas Terras Selvagens há três meses. Após a pacificação de sua terra natal, o monarca enviara representantes para estudar Telas. Tariq fizera a escolta e, depois, ficara livre para investigar os “ermos”.

O motivo crucial da missão de Tariq ao sul revelou-se quando mencionaram Shalash. O cavaleiro comentou que fazia tempo que os orcos não desciam das Geleiras para perturbar as cidades humanas. Réctor, então, mencionou o profeta orco.

— Vocês já ouviram falar nele? Shalash? — indagou Tariq, subitamente alerta.

— Sim — retrucou Garuk, sério.

— O rei deu ordens expressas para que eu obtivesse informações sobre Shalash. Ele está reunindo orcos, convocando-os para alguma coisa nas montanhas ao norte.

Com um rosnado e um olhar ameaçador, o Guia provocou Demétrius para que ele dissesse há quanto tempo aquela movimentação ocorria. “Um ano ou dois”, respondeu o ladino, tentando disfarçar a voz. Porém, o nome “Atravessador” escapou e o entregou.

— Atravessador? O famoso Atravessador de Trisque? — indagou Tariq. — Senta aqui, Demétrius, senta aqui ao meu lado.

O cavaleiro puxou uma cadeira para perto, gesticulando para que o ladino se acomodasse.

— Ele está sendo procurado por alguém daqui também? — provocou o Guia.

— Aqui não... em Telas. Mas meus deveres em Telas já foram cumpridos.

— Paguei a minha dívida em ouro — respondeu Demétrius, resoluto. — Alguém lá não concorda?

— Haha... bem, eu vou deixar que se resolva com eles — desconversou Tariq.

O foco retornou aos orcos. Tariq contextualizou a situação de sua terra natal, que passara recentemente por uma “reconquista”.

— Fui designado para garantir que não há um risco imediato de sofrermos novamente tudo o que sofremos no passado — explicou.

Os aventureiros revelaram detalhes sobre a Aurora Gelada, os prismas cristalinos, a chuva sombria e o gigante Nosrog. Tudo era novidade para Tariq, que ouvia com atenção, registrando cada palavra.

— Vou redigir uma carta para a coroa explicando essas informações — concluiu.

Silvan, sempre contido, passou por um momento de constrangimento protagonizado pelo Guia e por Garuk. A dupla de sekbetes apontou para Dorian, afirmando enfaticamente que o jovem aprendiz era “tão promissor que deveria ser o verdadeiro líder”.

— O Dorian tá sempre lendo o livro, mas quem sempre leva a fama é ele — dizia Garuk, apontando o dedo para Silvan.

A situação deixou o mestre do conhecimento vermelho. O grupo o viu deixar a mesa sem saber se ele estava envergonhado ou enfurecido com o disparate. Tariq demorou a entender a cena, até que Réctor explicou o comportamento peculiar do mago. O cavaleiro complementou:

— Telas tem muitos magos de difícil trato.

A noite avançava e o jantar esfriava. Antes de encerrar, Réctor perguntou sobre Veridion. O cavaleiro disse ter ouvido lendas na infância, no monastério perto da fronteira oeste de Verrogar, mas a história parecia mais uma fábula sobre a ganância mágica do que um fato útil ao napol.

Um Dia de Trabalho

Na manhã seguinte, o grupo se dividiu para aproveitar a estadia no entreposto. Tariq havia negado o uso da forja a Garuk por ser um sekbete, mas Haftor, como membro respeitável de Blur — reino com acordos diplomáticos com Telas —, assumiu a responsabilidade pelo local.

Haftor e Garuk dirigiram-se cedo à oficina, onde receberam a chave das mãos do cavaleiro. O trabalho consumiria o dia inteiro. Olgaria acompanhou-os brevemente, mas, sem ter como ajudar, logo se juntou ao Guia em suas investigações.

Na forja, Garuk construiu um elmo peculiar que cobria a parte superior de sua cabeça e o focinho crocodiliano. Com o tempo restante, confeccionou uma capa para Olgaria. Haftor, por sua vez, dedicou-se a forjar uma adaga ornamental para presentear o anfitrião.

Enquanto isso, o Guia percorria os arredores. Logo cedo, notou trabalhadores transportando barricadas de madeira.

— Para mim é só para não ver a gente parado — resmungou um soldado ao ser questionado.

Tariq surgiu e presenciou o sekbete ajudando nas tarefas manuais. O Guia, curioso sobre peles que vira perto da oficina, indagou o cavaleiro. Tariq disse que precisaria falar com Loric antes de mostrá-las. O rastreador aguardou, auxiliando os soldados, até que a autorização chegou.

O sekbete e Olgaria passaram horas analisando e cheirando as peles estocadas, até que fizeram uma descoberta macabra: uma delas era couro de orco.

— Você já viu isso aqui? — perguntou ele à zumi.

— Fora do orco, não — respondeu Olgaria, inocentemente.

O rastreador tentou identificar o odor do elfo sombrio que vendera aquela peça, conforme Tariq mencionara na noite anterior ("um elfo que passa a cada quatro ou cinco semanas"), mas seu olfato captava muitos cheiros misturados. Quando confrontado com a notícia sobre a origem do couro, Tariq reagiu com asco.

— Quem é que tira couro de orco? — questionou, retoricamente.

O Guia alertou o cavaleiro a não confiar nos elfos sombrios, aviso que Tariq prometeu repassar a Loric.

Paralelamente, Réctor e Haldur deixaram a Casa dos Sonhos juntos após uma pequena discussão com Demétrius. O napol confiava que o Atravessador não fugiria — afinal, não tinha para onde ir —, mas a conversa foi necessária para tranquilizar Haldur. A dupla encontrou Tariq logo após o alerta do Guia.

— Existem documentos que provam que Táviga está forjando registros para movimentações escusas em Trisque — disse Réctor, entregando papéis comprometedores retirados de Demétrius.

O olhar de Tariq denunciou a gravidade da situação.

— Ela é uma peça importante das viagens que vêm do norte. É essencial que seja alguém de confiança.

O napol insistiu que a meio-orca deveria ser vista como uma ameaça. Tariq garantiu que investigaria com atenção, despedindo-se para sua cavalgada matinal.

A Floresta de Eudam

Após o longo dia, houve um novo jantar, desta vez menos opulento e mais descontraído. Haftor presenteou Tariq com a adaga ornamental.

— É o trabalho de apenas um dia, mas é um presente de coração — disse o paladino.

O cavaleiro apreciou muito o adereço com traços anões. Antes da partida, alertou o grupo:

— Sigam a estrada principal. Há boatos de que a Floresta de Eudam anda muito perigosa.

No dia seguinte, porém, Réctor informou que precisariam desviar da trilha para encontrar seu mentor, Fáfnir. Apesar da resistência inicial dos magos, o napol foi convincente: o druida sábio poderia ter informações preciosas sobre o que atormentava a região.

Os aventureiros se embrenharam mata adentro até finalmente encontrarem o mentor de Réctor.

— Então você sobreviveu à viagem! — exclamou o humano com alegria.

Após breves apresentações e a explicação de que buscavam respostas sobre a floresta, o feiticeiro mudou o tom. Ele fez um risco no tronco grosso de uma árvore e abriu a porta para sua própria Casa dos Sonhos, revelando um jardim monumental em beleza e dimensões.

— Vamos conversar em um local particular. Entrem, antes que chamem a atenção da sombra.

Os aventureiros entraram um a um. O Guia rosnou, olhando ao redor, reticente em entrar novamente em um daqueles lugares. No entanto, a curiosidade sobre a “sombra” mencionada por Fáfnir falou mais alto. Ignorando seus receios, o sekbete foi o último a passar. A porta da Casa dos Sonhos, então, fechou-se atrás deles, isolando-os do perigo da floresta.

Entreposto Militar, Terras Selvagens, de 27 do mês do Sangue ao dia 3 do mês da Sabedoria do ano de 1502.

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