A Maldição do Lago
O Lagarto de Gelo
O lagarto de gelo serpenteou para fora da abertura no chão congelado, expondo as guelras e expelindo o frio mágico de suas entranhas. O ataque marcou o início abrupto da batalha.
O Guia tornou-se o alvo principal da criatura. A simples proximidade do hálito gelado queimava suas escamas, mas o rastreador era ágil o bastante para escapar do pior e manter distância do inimigo.
O grupo reagiu rapidamente. Réctor alçou voo e passou a disparar à distância; Garuk avançou usando seus poderes místicos para vencer o terreno escorregadio; Olgaria e Haldur, porém, tiveram mais dificuldade com o gelo instável e não conseguiram se aproximar de imediato.
Até Vaela e os outros elfos sombrios atacaram o monstro enquanto preparavam uma rota de fuga por portal, abandonando o combate assim que tiveram oportunidade.
Quando se viu cercado, o lagarto rompeu o gelo sob si e mergulhou na água gelada. Réctor enviou Sombra em perseguição e, ao mesmo tempo, invocou um auxílio de Plandis:
— Esta criatura magnífica que se esconde sob nós… Plandis, ajude-me a enxergá-la.
O deus louco respondeu com Fogo Divino: um raio poderoso e concentrado que abriu uma cratera circular no gelo, expondo a água abaixo — mas sem revelar o inimigo.
Enquanto enfrentava as criaturas imaginárias de Réctor submerso, o lagarto deu tempo suficiente para que o grupo se reorganizasse. O Guia, em especial, estava gravemente ferido.
A criatura retornou à superfície e encontrou os aventureiros mais preparados do que antes. Seus ataques ainda eram perigosos, mas agora o grupo compreendia melhor o inimigo. O lagarto logo foi ferido e desnorteado, até que Haftor desferiu o golpe final com a Marreta da Sentença. O impacto esmagou o crânio da criatura, que tombou imóvel sobre o gelo.
Nosrog e a maldição sobre o lago
Após a vitória, Garuk dedicou-se a esfolar a carcaça, recolhendo presas e ossos, enquanto Réctor extraía as glândulas mágicas do monstro. Simultaneamente, o napol liderou uma investigação no local. Examinaram a carroça destroçada, onde encontraram ovos de gavião apodrecidos, mas logo a atenção de todos se voltou para o gigante submerso.
Identificado pelos símbolos arcanos gravados no gelo como “Nosrog”, o gigante parecia estar ali há eras, mantido por uma magia ancestral. O Guia percebeu que a criatura, embora suspensa, estava viva. O encantamento de aprisionamento vacilava, permitindo o vazamento de sua aura vital, a causa provável da poluição mística do rio.
Os elfos sombrios tentaram abrir um portal de retorno em duas oportunidades. Em ambas, Réctor desfez a magia antes que pudessem atravessar.
— Não, não, não! — exclamou o napol, gesticulando para quebrar o encantamento. — Não quiseram ajudar, mas querem vir agora que o perigo já passou? Agora não.
A ação impeditiva forçou Vaela a se aproximar de outra forma: voando. A pesquisadora chegou sozinha e manteve-se cautelosa a quatro metros de altura, analisando a situação. Réctor começou a rodeá-la com perguntas, mas foi ignorado até que a elfa, finalmente convencida, desceu para conversar. Assim que pousou, Vaela convocou seus subordinados — Thrennor, Líbria e Syrath — que surgiram via portal.
O diálogo subsequente foi tenso, focado na troca de conhecimentos. Vaela comentou que Réctor parecia "culto e diferente dos outros de seu povo". O elogio torto e presunçoso desagradou o napol, mas a conversa prosseguiu. A elfa explicou que o gigante preso, Nosrog, era um guerreiro de uma era passada. Se despertasse, destruiria tudo ao redor. Segundo seus cálculos, o permafrost havia recuado quarenta centímetros nos últimos dias.
Os elfos demonstraram interesse nos Prismas d’Aurora que o grupo carregava, mas a interação cordial irritava profundamente Haftor e, especialmente, o Guia. O rastreador, que nutria antigas rixas contra os elfos sombrios, ficava mais incomodado a cada palavra trocada.
Vaela identificou o fungo negro coletado por Réctor no Rio Calbuen e no Vilarejo da Encruzilhada como Mortalos, uma praga criada artificialmente em Caridrândia com uso de karma infernal. Ocorre então uma troca: o napol entregou o frasco antigo e recebeu um espécime fresco da elfa.
A cordialidade foi a gota d’água para o Guia.
— Fala logo o que vocês ‘tão’ fazendo aí que tá sujando o rio! Ninguém tá confiando em ninguém aqui… Quem de vocês tá fazendo isso? — explodiu o rastreador.
Inicialmente ignorado, Réctor tentou apaziguar: “Não se preocupe, ele é um pouco ríspido… é um batedor, desconfiado, é da natureza dele”. Mas o Guia não se conformou e partiu para insultos diretos, sendo finalmente respondido:
— Não estamos aqui para escutar barbaridades de um escravo.
A resposta gerou reação imediata. Haftor empunhou seu machado, bradando: “Retire o que disse!”. O Guia rosnou, a mão buscando o martelo. Réctor, visivelmente irritado, tentava controlar a situação, mas o combate parecia iminente.
— Calma aí, pessoal — interveio Demétrius. — Senhora, acho que já fiz negócios com sua mestra… a senhora Minolis. Devo dizer que foi proveitoso para ambos, talvez possamos repetir a dose.
A menção do nome Minolis mudou o foco de ofensas pessoais para um tom comercial, acalmando Vaela. Para o Guia e Haftor, Demétrius explicou rapidamente: “A Senhora Minolis faz acordos com muitas pessoas… ela negocia escravos em todas as Terras Selvagens, de todas as raças e povos. Todos aqueles que se sujeitam, servem a ela”.
Embora Vaela não tenha se desculpado, a intervenção do Atravessador reduziu a fervura, transformando a interação em uma troca fria de “informação por informação”. Haftor ainda tentou impor sua fé, lançando Ordens sobre a elfa, que apenas desdenhou: “Seu deus não tem poder sobre mim”.
Com o clima insustentável e as informações essenciais já trocadas, Vaela partiu, deixando uma frase que soou tanto como promessa quanto ameaça: “Teremos outras oportunidades”.
O posto de controle
Após a partida dos elfos, o grupo discutiu brevemente. Réctor acusava o Guia de minar possíveis fontes de informação; o rastreador respondia que não se negocia com monstros de luvas finas.
O napol agradeceu a Demétrius por evitar uma luta desnecessária e, em seguida, chamaram Silvan para analisar Nosrog. O mago confirmou a lenda do gigante, mas reconheceu não possuir meios de reforçar o selo. A decisão foi seguir para Telas em busca de respostas acadêmicas.
Antes disso, cruzariam um posto de controle erguido à entrada da Floresta de Eudam.
Guardas haviam montado uma barreira e uma torre de madeira. Loric, um humano mais velho, assumiu a abordagem com arrogância evidente.
— Coloquem uma focinheira nesse animal.
O Guia reagiu imediatamente, e a tensão escalou. Silvan interveio, exigindo que seu nome fosse verificado nos registros. A autoridade do mago prevaleceu.
Embora o ressentimento tivesse permanecido, a passagem do grupo estava prestes a ser liberada.
As palavras duras ainda ecoavam no Guia, mais alto do que as ameaças antigas. Seu olhar para Loric carregava ira, e o desprezo que lhe era devolvido tornava claro que algumas tensões não se dissipam com ordens ou permissões.
Terras Selvagens — Dias 25 a 27 do mês do Sangue, ano de 1502.




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